segunda-feira, 20 de julho de 2020

Um Ubisoft Forward e dois para trás


Na semana passada a Ubisoft realizou seu evento "Ubisoft Forward" para substituir a falta de uma conferência na E3, porém o timing não poderia ser pior. A empresa estava lidando com acusações de abuso e três de seus executivos foram removidos de seus cargos como consequência disso. Não era um bom clima para um evento de jogos.

Antes do evento a Ubisoft avisou que era um evento pré-gravado e por isso não iria tocar no assunto dos abusos. Inicialmente me pareceu ok, no máximo uma oportunidade perdida, mas o analista Daniel Ahmad da Niko Partners me lembrou que várias empresas haviam adicionado mensagens pelo Black Lives Matter, então talvez não tivesse desculpa para não falarem sobre outra causa de grande porte.

É tão comum que empresas se comprometam a combater esses problemas e anunciem várias mudanças em suas estruturas e ainda assim as condições para os abusos continuem existindo que eu gostaria que a Ubisoft tivesse dado esse passo extra de anunciar em seu evento um compromisso maior. Como esse assunto é maior do que tenho capacidade de lidar, vamos voltar à parte dos jogos.


Antes do evento houve um grande pré-show de 1 hora com Trackmania, The Crew 2, Just Dance 2020, Trials Rising e Ghost Recon Breakpoint. Além disso foram apresentados também alguns indies por desenvolvedores e uma série que parece divertida chamada Mystic Quest: Raven's Banquet para Apple TV baseada em desenvolvimento de jogos. Também houve um pós-show com mais gameplay de alguns jogos. Não vou falar sobre o pré-show nem o pós-show, apenas da apresentação principal que começa por volta de 1 hora e 8 minutos.

O evento teve apresentação de Neelam Kumar, especialista em relações públicas da Ubisoft, e Youssef Maguid, especialista em comunicação da empresa. Eles apenas apareciam por poucos segundos para interligar os segmentos com informações de jogos. Já mencionei que sinto falta da Aisha Tyler? Acho que já.

A apresentação começou com Watch Dogs Legion em um novo trailer, sem grandes novidades sobre a jogabilidade. Se você ainda não está convencido pelo conceito de jogar com qualquer pessoa no mundo, está um pouco tarde para ser convencido. Obviamente essa variedade de personagens permite abordar missões de várias maneiras diferentes. A maior vantagem do jogo no entanto quase não é mencionada pela Ubisoft, que é o multiplayer cooperativo entre quatro pessoas. Com personagens tão diferentes é possível criar combinações bem interessantes para multiplayer. O jogo sai em 29 de outubro de 2020.


O trailer de Watch Dos Legion chamou mais atenção devido a uma polêmica, uma versão retrabalhada do poema anti-nazismo "E Não Sobrou Ninguém" do pastor Martin Niemöller, o qual muitas pessoas acharam de mau gosto. Eu acho que apesar de obviamente haver uma corporação capitalista por trás do desenvolvimento, o jogo ainda traz uma mensagem anti-fascista e conta como uma forma de arte contra a ascensão desses regimes nos últimos anos. Acho que como sociedade nunca precisamos tanto de lembretes sobre como evitar o fascismo.

Em seguida tivemos um pouco de jogos mobile com o anúncio de que Brawhalla chegará ao Android e iOS com Crossplay em 6 de agosto, um jogo que tem feito bastante sucesso entre jovens com seus crossovers de personagens. Um pouco de Might & Magic: Era of Chaos e um novo jogo multiplayer chamado Elite Squad com vários personagens da Ubisoft. Não houve nada particularmente interessante na área mobile da empresa.

Rainbow Six Siege aparece comemorando seu quinto ano falando de algumas novidades, mas logo dá espaço para o novo Battle Royale da Ubisoft: Hyperscape. Ele se passa em um mundo virtual estilo Jogador Nº 1 com algumas ideias interessantes como as habilidades serem aleatórias e encontradas pelo campo de batalha assim como armas.


Até achei Hyperscape um jogo interessante, mas o mercado de Battle Royale está saturado. Se a Ubisoft só quiser uma fatia do bolo, não vejo problemas em disputar com jogos como Apex Legends e conseguir lucrar por um tempo. No entanto, não o vejo ao lado dos líderes como Fortnite ou Call of Duty: Warzone.

Na sequência tivemos uma participação especial, Phil Spencer, chefe do Xbox para falar sobre os upgrades de jogos da Ubisoft do Xbox One para o Xbox Series X. A presença de Phil Spencer não teve tanto peso porque ele e Shuhei Yoshida, chefe de jogos independentes da Sony, já haviam aparecido no dia anterior na conferência da Devolver Digital. Normalmente eu cubro essas conferências em ordem cronológica, mas estou falando da Ubisoft Forward antes por motivos que ficarão mais claros depois.

Assassin's Creed Valhalla apareceu finalmente com um pouco de gameplay e pareceu bastante promissor como já se esperava. bom sistema de combate, belos cenários para explorar, tudo que se esperaria de um Assassin's Creed. Sem mais trailers e enrolações. O único problema é como os jogos da Ubisoft já estão um pouco formulaicos, algo que falarei a respeito a seguir.


Yves Guillemot, CEO da Ubisoft, apareceu para encerrar o evento e fazer um último anúncio: Far Cry 6, com o ator Giancarlo Esposito de séries como Breaking Bad e The Mandalorian. O anúncio já havia vazado anteriormente, no entanto, então não foi nenhuma surpresa. É a mesma história de sempre na qual o jogador precisa derrubar um tirano, mas agora em uma ilha semelhante a Cuba. Formulaico, mas funciona. Sai em 18 de fevereiro de 2021.

Após uma geração inteira de jogos da Ubisoft, a jogabilidade dos jogos da empresa já parece um pouco repetitiva demais, como se fosse uma formalidade anual. Funciona para quem quer apenas a mesma coisa, um público específico que os consome anualmente, porém para quem está de fora nem sempre faz sentido. Por exemplo, eu não joguei Far Cry 5, posso comprar o 5 no lugar do 6 e ter praticamente a mesma experiência. Gosto do conceito dos jogos e como eles são apresentados, mas não dá pra negar toda essa repetição.


Diria que a conferência da Ubisoft não foi de todo mal, mas faltaram surpresas. Basicamente apenas vimos mais de coisas já anunciadas, tudo sob uma sombra de um momento bem tenso da empresa. Teria sido um ótimo momento para ver algo mais alegre e esperançoso como Gods & Monsters ou mesmo algo leve e cômico como Rayman ou os Rabbids, algo que nos lembre no que a Ubisoft é diferente de outras empresas, não no que é igual. Principalmente nas atitudes.

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