Eu sou um grande fã de jogos de mergulho, acho que desde Blue: Legend of Water no PlayStation One, e definitivamente encontrei meu jogo perfeito em Endless Ocean no Nintendo Wii. Tenho ao mesmo tempo desconforto pela grandiosidade do mar (talassofobia) e fascínio pelos seus mistérios. Beyond Blue é um jogo de mergulho para PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch, PC, Android e iOS dos mesmos criadores de Never Alone que acabou por não me entregar certas coisas que eu esperava mas me surpreendeu em outras do jeito certo.
O jogo é inspirado pelo documentário Blue Planet II da BBC Earth de 2017. Assim como muitos jogos de mergulho, não há desafio propriamente dito, você não vai ficar sem ar e nada vai tentar te matar enquanto estiver submerso. Há outras coisas para "gamificar" o mergulho, como coletar informações de peixes, mas o foco está em aproveitar a beleza do oceano. Nesse ponto Beyond Blue parece menos com um jogo e mais com uma experiência guiada.
A história segue os passos da doutora Mirai Soto, uma personagem que embarcou em uma viagem de pesquisa para produzir filmagens e streams do fundo do mar. Ao lado dela há dois coadjuvantes que a acompanham por rádio em seus mergulhos, André e Irina, que cuidam da parte técnica. O objetivo de Mirai é observar um baleal de baleias cachalotes que aumentou com a chegada de uma recém-nascida de uma tonelada.
Durante os mergulhos há um certo script a ser seguido. O jogador fica relativamente livre para explorar o que quiser, mas tem objetivos que precisa seguir para avançar. Seja um local a ser alcançado ou um número pequeno de criaturas que precisam ser escaneadas. De tempos em tempos é preciso ir até uma boia que detecta sons para encontrar golfinhos e baleias.
A jogabilidade é bem simples, você apenas nada na direção em que quer ir e pode nadar um pouco mais rápido. Uma escolha estranha é que o direcional analógico direito, que normalmente controlaria a câmera, controla também o movimento. Acredito que seja para não causar desorientação como é comum em jogos do tipo. É possível anular esse movimento, como olhar para baixo enquanto nada para cima ao utilizar os gatilhos.
Há algumas coisas realmente belas para se ver nesse jogo, como se você estivesse jogando um documentário. É uma oportunidade de ver animais realizando ações que raramente veríamos em um jogo, investigar corais e fontes termais que até podem ser a origem da vida no planeta. Em meio a isso um pequeno mistério de proporções mais humanas também se desenrola.
Entre cada mergulho há uma história paralela sobre Mirai e sua irmã Ren para quem ela liga de seu submarino. Ren está com dificuldades para lidar com sua vida na faculdade e cuidar da avó que está com demência. Em qualquer outro jogo poderia parecer que essa história é só atochada para dar mais substância e peso emocional, porém há um interessante paralelo com a forma matrilinear que as próprias baleias cachalotes vivem, na qual irmãs, mães e avós ficam juntas para sempre.
Visualmente o jogo é bonito, mas talvez não tão vivo quanto eu gostaria que fosse. Há pelo menos uma boa quantidade de animais marinhos e suas representações e animações realmente roubam a cena pela fidelidade. O modelo da doutora Mirai no submarino não é muito bom. É algo que dá pra ignorar, mas que também não dá pra não se assustar na primeira vez.
Há uma boa seleção de músicas para escutar no submarino e durante seus mergulhos, desde canções originais até algumas famosas como Miles Davis. A dublagem é ótima e traz alguns grandes nomes como Anna Kay Akana do YouTube como Mirai, Hakeem Kae-Kazim de Hotel Rwanda como André e Mira Furlan de Babylon 5 (Delenn!) e Lost como Irina.
Um dos poucos problemas que eu tive com o jogo é que ele é bem curto e não muito rejogável. Apesar de liberar mergulho livre após terminar a história, esta modalidade não funciona tão bem quanto em outros jogos de mergulho. Durante o jogo também é possível liberar alguns documentários bem legais sobre vida marinha, porém não são gameplay.
Beyond Blue é um daqueles raros jogos que consegue dar um soco emocional sem soar pretensioso pois domina bem o assunto que está falando e traça paralelos interessantes. Apesar de alguns defeitos ainda assim vale muito a pena se arriscar e se deixar envolver por essa experiência pelo tempo que ela durar.
Nota: 8,5/10
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