quinta-feira, 14 de maio de 2020

Inside Xbox deixou a peteca do gameplay cair


Na semana passada a Microsoft fez um evento "Inside Xbox" que supostamente mostraria o gameplay de títulos do Xbox Series X. O evento seria mais um duro golpe na estratégia da Sony para o PlayStation 5 de ficar quieta para manter as coisas em segredo e esperar a Microsoft fazer tudo antes para só depois reagir. Seria... porque o evento de gameplay... não teve gameplay... não teve nem jogos interessantes... foi meio que um desastre.

O começo foi promissor, quando Aaron Greenberg, gerente de marketing do Xbox, entrou por stream de sua casa e havia um Xbox Series X gigante no lugar da geladeira. Se uma piada é óbvia, faça você mesmo e pegue eles de surpresa, é a melhor técnica. Porem, o resto foi tudo ladeira abaixo a partir daí.


Uma coisa que a Microsoft falou durante o evento é sobre um programa chamado "Smart Delivery", que significa que se você compra um jogo no Xbox One, ganha ele no Xbox Series X também. Porém, isso me parece que é uma falta de incentivo para comprar um Xbox Series X. A grande maioria do público, se pudesse jogar os jogos da próxima geração com gráficos piores mas sem gastar 400 dólares para comprar um console novo, faria essa opção.

Isso tornaria a adoção do Xbox Series X ainda mais lenta. Em comparação, quando o PlayStation 4 lançou e eu já tinha uma assinatura da PS Plus, eu comecei a ganhar jogos de PS4, os quais eu não podia jogar até comprar o console. Isso sim era um grande incentivo, pois após um ano de PS Plus eu já tinha vários jogos e até comprava jogos em promoção já pensando em jogar no console futuramente.

Mas falando em decepção, o problema é quando começamos a ver os anúncios. Uma tela grande mostrava que todos os jogos eram "otimizados para o Xbox Series X". Como isso é diferente dos jogos do Xbox One que são otimizados para o Xbox One X? Acho que a Microsoft não percebe como esses nomes e forma de comunicação são confusos para o público em geral. Não quero ver otimizados, quero ver exclusivos.

Bright Memory Infinite foi o primeiro jogo a aparecer e ele é um jogo independente feito por um único desenvolvedor. É um jogo bastante impressionante de tiro, combate com espadas e trechos de carro mas ele também é um pouco exagerado. Eu acho que posso gostar dele, mas não é lá um grande exemplo de próxima geração.


A Codemasters anunciou Dirt 5, sem grandes surpresas e que sairá também em outras plataformas. "Scorn" foi um dos primeiros trailers que realmente me desanimou no evento porque é um trailer que não diz nada, seguido então por "Chorvs", um jogo de nave com um trailer que também não disse nada e ali eu comecei a ver um certo padrão nos trailers que se tornou a vibe geral do evento.

A próxima revelação foi Vampire The Masquerade Bloodlines 2, uma série que não me agrada muito mas que sei que tem fãs fiéis. Há um bom potencial em sua jogabilidade mesmo que seu visual não seja grande coisa. No início eu pensei que poderia ser algo do estúdio de We Happy Few e pensei que seria interessante algo semelhante a We Happy Few mas com super poderes.


Call of the Sea foi um jogo meio estranho, uma aventura em primeira pessoa nos anos 30 com uma aventureira em busca de alguém. Até achei charmosa, mas senti que estava na mesma vibe dos outros trailers. Muita narração e praticamente nenhum gameplay, a não ser que seja um walking simulator já que só mostrou a personagem andando.

The Ascent foi um jogo interessante, tiro em visão aérea, meio cyberpunk. Não é nada muito fora do comum, mas esses jogos de tiro costumam ser divertidos apesar de não muito profundos. O que veio depois? Isso mesmo, "The Medium", um jogo de terror com um trailer que não diz nada e já sai no final de 2020.

Um dos jogos mais bacanas da conferência foi Scarlet Nexus, um jogo da Bandai Namco que também será multiplataforma. Os monstros pareceram muito legais, mas a jogabilidade e o protagonista já são um pouco genéricos, meio Devil May Cry. Ainda assim, só o fato de ter gameplay mostra um pouco a diferença de filosofia entre jogos ocidentais e orientais.


Second Extinction, um FPS com dinossauros pareceu ok, mas também não mostrou muita coisa e o RPG japonês Yakuza Like a Dragon foi confirmado para o Xbox Series X, mas é um jogo que já saiu no PS4 há mais tempo, nada muito impressionante. Por fim o famigerado "trailer de gameplay" de Assassin's Creed Valhalla sem gameplay algum. Foi realmente a gota d'água que fez o evento ir por água abaixo.

Este evento tinha tudo para ser um forte golpe no PS5 que está cheio de segredinhos, mas acabou deixando a barriga desprotegida pra um contra-ataque. Não que a Sony pareça interessada em contra-atacar também. Essa disputa de quem pisca primeiro entre Sony e Microsoft está bem chato e demonstra uma falta de confiança de ambas, como se bastasse.

Aaron Greenberg tweetou que o problema do evento é que criaram expectativas erradas, mas ele achou apenas que não deveriam ter anunciado, simplesmente largado do nada, como a Nintendo (e eu odeio isso), sem considerar que o conteúdo do evento foi fraco, um grande erro.

Agora só devemos ver alguma coisa em junho, na semana que deveria ser a feira de jogos E3, mas que foi cancelada devido a pandemia. Será que é pedir demais que as empresas de jogos mostrem seus... jogos?


quarta-feira, 6 de maio de 2020

Pandemia & Previsões


Como todos já devem saber, a pandemia do novo coronavírus afetou bastante o mercado de jogos esse ano e seus efeitos podem ser bem duradouros. Para quem segue o blog e curte as previsões que fazemos de mercado sobre quais videogames vão vender mais ou quais jogos vão fazer sucesso (ou não) achei legal avisar que vamos ter que suspender previsões devido a imprevisibilidade da pandemia.

Ainda devo analisar os últimos números fiscais da Nintendo porque tenho coisas pra falar sobre eles desde os relatórios do terceiro trimestre, porém em março, quando a Organização Mundial da Saúde oficializou a pandemia, já temos anomalias muito fora do comum com o lançamento de Animal Crossing: New Horizons superando jogos como Mario, Zelda e Call of Duty.

Esta é uma hora para desconfiar de previsões, porque ninguém sabe como de fato uma pandemia afeta o mercado de games a longo prazo, nunca tivemos nada parecido antes. Uma das primeiras análises sérias veio da analista Karol Severin da empresa MIDiA, que descreveu o mercado de jogos como "um peixe em crescimento em um lago que está secando". Em outras palavras, que este súbito pico no mercado de jogos precede um momento bem menos oportuno.

Assim como em um primeiro instante jogos como Animal Crossing podem vender muito no início da pandemia e quarentena, o mercado de games pode mudar ou entrar em colapso quando o tempo de isolamento aumentar e o clima começar a ficar mais pesado.

Quando o isolamento começou (nos países sérios) e as pessoas começaram a ficar em casa, disparou o interesse por jogos clássicos e simples para jogar com amigos. Jogos de cartas, de tabuleiro, sinuca, UNO, stop/adedanha. Tudo isso porque a impressão era a de que todos apenas haviam ganhado alguns dias de descanso com os amigos online.

Porém, com o aumento do tempo de quarentena, a ficha começou a cair. O isolamento se tornou parte da rotina, muitas pessoas começaram a trabalhar em home office, mas agora têm que lidar também sedentarismo (algo não tão problemático para muitos jogadores de videogame). Isso por sua vez aumentou a procura por jogos de exercício para quebrar a monotonia, dar movimento e queimar calorias, entre eles Ring Fit Adventure. Também aumentou a procurar por jogos adultos, mas vamos pular essa.

O Switch em seu quarto ano quando já deveria estar desacelerando, subitamente bateu recordes de vendas com números equiparáveis a seu lançamento. Enquanto o PlayStation 4 que já caía esperadamente em seu ano final antes do lançamento de seu sucessor, teve uma queda ainda maior do que deveria. Nesse cenário é impossível saber como PlayStation 5 e Xbox Series X irão se portar.

Apesar disso eu ainda devo arriscar um ou outro palpite por diversão, porém minha margem de erro seria alta demais para dizer com certeza a reação do mercado como costumo fazer. A própria definição de sucesso e fracasso podem mudar. Um ano cheio de ports pode ser péssimo normalmente para um videogame, mas em uma quarentena quando todos os principais lançamentos são atrasados? Aceitável.

Quanto mais tempo a quarentena durar, maior será também o impacto econômico dela. O dinheiro para entretenimento irá diminuir e uma recessão será inevitável. Videogames perderão a prioridade para coisas mais essenciais e quando o vírus parar finalmente de circular o que todos irão querer fazer é ir lá pra fora com pessoas, não comprar jogos e consoles.

São pessoas que geram riqueza, não empresas. A pandemia não está só matando números estatísticos, são pessoas que têm seus sonhos interrompidos e uma sociedade que fica sem suas contribuições futuras. Pessoas que deixam de comprar seus jogos preferidos para se divertirem, pessoas que não estão mais lá para criar nossos jogos favoritos.

A forma como a pandemia afetará o mercado de jogos será algo a se estudar retroativamente, depois que passar, tentando entender seus efeitos para entender situações semelhantes no futuro. Pode parecer até bobagem falar de videogames nesse momento que tantas coisas mais importantes estão acontecendo, mas eles fazem parte das artes que não só nos mantêm vivos como fazem valer a pena viver, nos ajudam a não quebrar sob tanta pressão.

Vale lembrar que ninguém está seguro no ambiente atual, até eu posso não estar mais aqui para fazer os posts que todos amam odiar. Fiquem em casa, exagerem nos cuidados e sobrevivam. E para o caso de não nos vermos mais, Bom Dia, Boa Tarde e Boa Noite.