terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Review de Shenmue 3


Shenmue 3 é um jogo que eu apoiei no Kickstarter apenas porque eu queria que fosse feito, apesar de nunca ter gostado tanto assim do primeiro Shenmue. Eu cheguei a jogá-lo na época do Dreamcast e suas mecânicas eram inovadoras para a época, porém sua jogabilidade sempre foi muito limitada e linear, um simulador monótono de conversação que era reflexo de uma época em que não sabíamos o futuro dos jogos. Eu esperava que o terceiro capítulo pudesse ser melhor, mas ao invés disso temos um novo jogo de Dreamcast nos dias atuais.

Não que não haja um certo charme retrô em jogar algo com uma sensação tão antiga e não tenha momentos em que eu me diverti com Shenmue 3 apenas por nostalgia, porém o jogo realmente faz você passar por todos os sentimentos que os jogos de antigamente causavam e torra sua paciência até todos os limites do aceitável.

Normalmente eu gosto de terminar os jogos dos quais vou fazer review, a não ser que algo me impeça de progredir como um bug ou problemas nas mecânicas. Shenmue 3 é um dos raríssimos exemplos em que simplesmente eu não tenho mais paciência para seguir com o jogo pois ele não parece estar indo a lugar nenhum. Também não gosto de usar informações externas ao invés de ver com meus próprios olhos, mas segundo pesquisei a história nem mesmo é concluída nesse terceiro jogo.


Continuamos a seguir os passos de Ryo Hazuki, um rapaz japonês que teve o pai assassinado por um vilão chamado Lan Di devido a um misterioso espelho com anos de história. Felizmente há um pequeno filme que recapitula os dois primeiros jogos para quem não se lembra mais deles. Os passos de Ryo o levaram para a China, mais precisamente na pequena Vila Bailu, um local que parece esquecido pelo tempo. O jogo também se passa muitos anos atrás, então não há celulares por perto.

O maior problema da história de Shenmue 3 é que tentam nos convencer que ao mesmo tempo Ryo está cego pelo fogo do desejo de vingança pela morte de seu pai e ainda assim pede licença para perguntar sobre as coisas mais mundanas a senhorinhas idosas e ajudar crianças a encontrar brinquedos perdidos. Não tem como espalhar uma emoção tão intensa por um pedaço de pão tão longo.

A jogabilidade básica de Shenmue envolve dois pontos. Primeiro, andar por aí conversando com todos sobre a mais recente pista que você tenha e segundo investigar locais específicos com o que restou do gênero "FREE" que o jogo lançou na época do Dreamcast. Há também combate, mas ele é péssimo e funciona mais como um obstáculo do que como parte do jogo.

Ryo continua perguntando sobre tudo e com a personalidade de uma porta, mas é aqui que há um certo charme Dreamcastesco sobre o jogo. A dublagem faz seu trabalho e cada pessoa tem várias respostas para cada pergunta que o jogador tiver que fazer, apesar de serem meio robóticos. Hoje em dia no entanto há jogos que fazem mais e com árvores de diálogo mais interessantes e Shenmue ignora isso. Há também corte bruscos de câmera durante as conversas pois certas respostas parecem fazer partes de outras.


Em sua época, a ideia do "FREE" era um gênero chamado "Full Reacting Eyes Experience", uma experiência que reunia a interação com seu poder de observação. Tudo que você pudesse ver poderia interagir como abrir gavetas, examinar objetos minuciosamente e assim por diante. O problema é que praticamente só sobrou mesmo do FREE o lance de abrir gavetas.

Talvez em um jogo de detetive o potencial desse gênero pudesse ser explorado porque é interessante encontrar pistas ao explorar o cenário, mas não é nada interessante abrir todas as gavetas de um lugar e depois descobrir que a pista era um quadro. Há informação inútil demais espalhada pelo jogo que acaba por desperdiçar o tempo do jogador a um nível extremo.

Quando os eventos estão andando, Shenmue 3 nem é tão ruim assim. Talvez fosse um jogo menos estressante de assistir no YouTube ou jogar com um passo a passo do lado para não desperdiçar tempo, muito como The Legend of Zelda: Majora's Mask. Para cada pisada no acelerador há uma pisada no freio, você não consegue chegar a lugar nenhum não porque não está tentando, mas por causa do veículo.


Durante quase todo o período que eu joguei Shenmue 3 eu preferia estar fazendo outra coisa para aproveitar meu tempo de forma mais útil. O jogo tinha várias chances de mostrar o que tinha de melhor e concluir dignamente seu legado ao deixar exatamente a imagem que queria passar e não um reflexo afetado pelo tempo, mas ao invés disso ele é extremamente datado, arrastado, não chega a lugar nenhum e não deixa nenhuma dúvida de por qual razão a série foi esquecida.

Nota 5/10


Um comentário:

  1. Sempre me senti assim com os 2 originais de Dreamcast. Tive o console e esses jogos e sempre achei super entediante, exceto pelos gráficos bonitos e cutscenes bem animadas (além da dublagem japonesa que era de qualidade). Porém, eu sempre achei muito chato e monótono. O realismo do jogo não está a serviço de deixar a experiência melhor porque existem coisas chatas da realidade que foram inseridas neles (exemplo: burocracia).

    Eu só consegui jogar Shenmue com o auxílio de um guia e não achei a experiência divertida.

    Acredito que a Sega não tinha interesse em reviver esta franquia porque os clássicos deram muito prejuízo e eles já tem Yakuza que é basicamente um Shenmue bom e mais violento.

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