terça-feira, 12 de novembro de 2019
Review Stranded Sails - Explorers of the Cursed Islands
Stranded Sails - Explorers of the Cursed Islands é um pequeno jogo independente da empresa Lemonbomb Entertainment que apresenta um visual simpático e algumas ideias promissoras, mas desaponta em sua execução. A primeira impressão ao ver o jogo é que ele se assemelharia a outros como Stardew Valley ou Harvest Moon, porém, como sua página de Steam alerta, ele é completamente diferente destes e traz uma experiência linear.
A história é bastante simples. Você é o filho (ou filha) de um capitão de um navio que em meio a um naufrágio vai parar em um punhado de ilhas desconhecidas. Seu objetivo inicialmente é "sobreviver" e reagrupar sua tripulação até que descobrem que essas ilhas estão amaldiçoadas e precisarão de mais do que apenas um novo barco para saírem delas. Toda a história é contada por diálogos meio sem vida e monótonos que não ajudam para que você se importe com ela.
Uma premissa de estar abandonado em uma ilha e ter que sobreviver enquanto lentamente monta um acampamento e um novo barco é bastante promissora, porém Stranded Sails não consegue transformá-la em um bom jogo. Há dois grandes problemas que impedem a jogabilidade de decolar: sua linearidade e um sistema de energia por ações.
O jogo segura sua mão com força e não deixa você fazer quase nada por conta própria. Em alguns momentos tive a sensação de jogar um tutorial que nunca acabava. Desde o início você tem missões para procurar os outros membros perdidos da tripulação e sempre tem objetivos como "Vá falar com Charles", "Vá procurar Cecilia", "Encontre este item", sem nunca poder relaxar e fazer o que quiser.
Já o sistema de energia é o principal limitador do jogo. Você tem uma barra de energia que determina quantas ações pode realizar antes de precisar dormir ou se alimentar. Essa barra é drenada por todas as ações, como andar e principalmente correr, como se querer ir mais rápido fosse um crime que merecesse ser punido. Caso ela se esgota você desmaia exausto e retorna para o acampamento. Não me parece haver grandes consequências por desmaiar além do fato que você é retirado do local que está explorando.
O jogo oferece várias atividades para garantir sua subsistência, como cavar, pescar, plantar e cortar árvores, porém nunca há energia o suficiente para cuidar de tudo em um dia comum. É algo realista, mas extremamente chato e que limita imensamente a diversão com o jogo. Normalmente eu falaria de todas essas ações que você pode fazer puramente de uma forma positiva, mas como elas cansam seu personagem, acabam virando um estorvo que drena sua energia o tempo todo.
Após cavar, semear e regar suas sementes elas fornecerão alimentos em alguns dias. Uma questão curiosa é que você não come os alimentos diretamente, como tomates ou beringelas, mas os usa como ingredientes para receitas. Cada receita preparada ocupa então um slot de comida no seu inventário e quanto mais você avança no jogo mais comidas pode carregar e assim explorar mais longe e por mais tempo. Em teoria, pois elas não garantem tanta energia assim.
Logo cedo o jogo apresenta o fato de que você tem que visitar ilhas ao redor da sua por uma série de motivos e para tal precisa remar um barco. Remar de uma ilha para outra é uma tarefa muito chata e que gasta uma quantidade absurda de energia. Uma vez nas outras ilhas você pode procurar por membros da tripulação perdidos ou encontrar itens que não estão presentes na ilha do seu acampamento.
Durante o jogo é possível construir certos projetos preparados por membros da sua tripulação, como cabanas, extensões da horta, rampas, entre outros. No entanto eles sempre pedem muitos itens que são chatos de acumular. Se você precisa de madeira, basta ir numa árvore com um machado e cortá-la, como em Minecraft. No entanto, se precisar de corda ou metal há toda uma epopeia envolvida.
Itens como corda e metal não existem na ilha do acampamento. É preciso ir para outras ilhas, abrir alguns baús e torcer para vir aleatoriamente o item que você precisa. Caso não consiga não há alternativa senão voltar para o acampamento e fazer tudo de novo. Os itens nos baús mudam e você fica tendo que retornar constantemente para isso. Sempre remando, gastando energia e cozinhando para poder sequer explorar depois de gastar quase toda sua energia para remar até outra ilha.
As primeiras horas de jogo são sofríveis pois é nesse momento que você tem menos condições e ferramentas para cuidar de tudo. Se não fosse o fato de que estava fazendo uma review provavelmente desistiria do jogo facilmente. No entanto houve um momento em que o jogo começou a melhorar após todos esses problemas iniciais e eu cheguei a me divertir com ele.
Foi quando Stranded Sails me apresentou sua melhor mecânica: o guisado. Após resgatar alguns membros de sua tripulação é possível fazer um guisado, basicamente um grande ensopado em um caldeirão. Você dá os ingredientes que colheu para cada um dos membros, todos os jogam no caldeirão e você ganha um sopão para se alimentar e ao menos no acampamento não ficar sem energia.
No entanto o guisado não é apenas um alimento, ele carrega um elemento social de fazer o grupo se entrosar mais. Quanto mais e melhores guisados você fizer, tentando adivinhar os ingredientes favoritos de cada um, mais a amizade do grupo sobe de nível. Quando isso acontece você ganha bônus como ferramentas melhores e mais projetos para construir. Esse elemento social que faz o grupo e o acampamento cada vez mais amigáveis é sem dúvida a melhor parte do jogo.
Então vem a parte mais estranha que fez com que eu me desanimasse novamente. Após várias horas de jogo, plantando, explorando... o jogo introduz combate. Após explorar bastante e ganhar kits para explorar como criação de pontes e escadas você chega a cavernas onde há fantasmas para enfrentar. Nesse ponto eu simplesmente estava me perguntando qual o público alvo desse jogo, pois o combate não fazia o menor sentido. Não era ruim em jogabilidade, mas estava extremamente deslocado.
Para piorar tudo, o jogo tem uma péssima interface. Tudo é muito mais complicado do que deveria. De escolher suas ferramentas até checar seus itens e principalmente o sistema de receitas. Ao invés de misturar ingredientes e ver o que consegue criar, o jogo te faz tentar descobrir cada receita individualmente, sem qualquer pista sobre o que você está tentando criar, forçando um longo e inútil processo de tentativa e erro para cada receita.
Estranhamente informações importantes parecem ser jogadas pra escanteio em uma seção "Manual" do menu enquanto os diálogos sem muita importância tomam seu tempo. Eu tive alguns problemas especificamente com a tradução para o português, na qual nem todas as passagens e nomes estavam traduzidos. Não me incomodou muito mas não passou uma boa impressão.
Visualmente o jogo é bem simpático com um visual com poucos polígonos e modelos carismáticos, com exceção do protagonista que é um tanto quanto genérico, mas aceitável. Eu tive alguns glitches gráficos e problemas de performance, nada excessivo, mas não faz muito sentido para um jogo simplista rodando no PlayStation 4. Imagino que a versão do Switch pode até sofrer mais com isso.
Algumas músicas são um pouco enjoativas, como a canção de fundo do acampamento, a qual infelizmente você vai ouvir por muito tempo já que é basicamente a parte central do jogo. Outras são melhores como as que tocam ao explorar o mar. Não há dublagem e os efeitos sonoros são razoáveis e fazem seu trabalho.
Stranded Sails - Explorers of the Cursed Islands tem vários sistemas interessantes posicionados em um jogo que não parece saber muito bem o que quer ser e se perde no meio do caminho. Sem o sistema limitador de energia eu consigo me imaginar gostando dele como um jogo de plantação ou como um jogo de aventura, mas não essa mistura estranha entre os dois. Há partes que eu realmente gostei no jogo mas elas estão enterradas em muitos problemas que não valem a energia gasta para cavar.
5/10
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