domingo, 30 de setembro de 2018

Minecraft segue seu caminho de irrelevância na MineCon 2018


Esse final de semana tivemos a MineCon 2018, um evento que reúne todas as maioridades novidades relacionadas a Minecraft em um ano e para surpresa de ninguém os anúncios foram bem caídos. Vale a pena dar uma olhada no artigo anterior "Como a Microsoft destruiu Minecraft" já que não vamos falar dessa parte toda da questão, apenas de como as novidades continuam levando Minecraft por um caminho de irrelevância.

A primeira novidade é "Village and Pillage", que dá uma maior diferenciação entre os habitantes das vilas e entre habitantes de vilas em biomas diferentes. Cada bioma agora terá diferentes tipos de arquitetura e isso promete pelo menos uma maior variedade às cidades, mas vale lembrar que cidades são ocorrências relativamente raras em Minecraft, então poucas vezes você teria contato constante com duas diferentes.

O destaque ficou para um novo tipo de inimigo que anda em bando chamados Pillagers, saqueadores que lembram um pouco os já adicionados Illagers que aparecem nas mansões porém com um elemento nômade. Eles atacam com uma nova arma, a besta, a qual poderá também ser construída por jogadores, e costumam andar com uma criatura que parece um búfalo para atacar inimigos.


Particularmente eu gosto da ideia de um grupo de inimigos que ofereça algum desafio, pois após dominar uma área com uma fortaleza é muito difícil se sentir ameaçado em Minecraft, porém eles poderiam facilmente dizimar um vilarejo antes que você tivesse tempo de protegê-lo. Para não mencionar que novamente isso afeta a parte de "contraste" do jogo, deixando os dias igualmente perigosos em relação às noites.

O ideal seria que Minecraft tivesse etapas mais demarcadas para que inimigos não viessem atacar antes de você estar pronto, como em um Tower Defense. Criar fortalezas é legal, mas Minecraft não foi bem projetado para isso, uma vez que você erga uma defesa ao seu redor, os inimigos não podem entrar. Por isso há todo o elemento de mineração para que você tenha que se expor ao perigo em troca de recompensa.

Muitos elementos de Minecraft hoje parecem precários, mal feitos demais para um jogo tão popular. Até hoje é dificílimo criar armadilhas para matarem inimigos automaticamente, elas são ineficientes, bugadas, exigem constante manutenção. O tipo de coisa que poderia ser consertado em um Minecraft 2 e integrado desde o início no design se esse fosse o foco do jogo.


O segundo anúncio foi que estavam ampliando os biomas, pretendem adicionar extras a todos os biomas do jogo, mas irão fazer isso um de cada vez a começar pela Taiga graças a uma votação de usuários. Agora temos pandas comedores de bambu e mais gatos. São adições bem vazias que mais uma vez inflam o jogo sem qualquer retorno para a jogabilidade.

São as típicas adições de Jeb, sempre mais, mais, mais, sem qualquer motivo para o mais. Em cinco segundos eu consigo pensar em adições melhores. Ao invés de um Panda, simplesmente um urso, faça o jogador ter um pouco de medo da fauna. É algo simples e que adiciona à jogabilidade, não apenas mais um enfeite para o cenário.

Por fim tivemos o primeiro prego na tampa do caixão de Minecraft, o anúncio de um novo jogo chamado Minecraft: Dungeons, um dungeon crawler genérico com diferentes classes de personagens e aposto também que terá geração de dungeons aleatória. Esse é o tipo de jogo sem alma e genérico que a Microsoft faz quando tem uma franquia e deseja explorá-la por uma grana básica, praticamente um Fable Legends.


Não que eu diga que não vá fazer sucesso, não sei como anda a popularidade da estética de Minecraft hoje em dia, se crianças ainda são encantadas por qualquer coisa com visual de blocos como era na época que o jogo foi lançado. Muitos jogos ruins se firmaram entre bases jovens de jogadores sem muito discernimento graças a essa estética. Porém eu não espero um jogo relevante.

Eu realmente sinto falta de quando Minecraft era um bom jogo.


sábado, 29 de setembro de 2018

Crossplay e o vespeiro no vizinho


Crossplay tem sido uma das palavras do momento, uma polêmica que se instaurou mais ou menos no último ano e veio se arrastando a níveis mais controversos. Crossplay é a ideia de unificar multiplayer entre várias plataformas, algo que um dia já pareceu completamente absurdo mas hoje se espera das empresas e elas são cobradas quando não têm. Vamos entender um pouco o que está acontecendo e por que essa questão não é tão simples quanto deixar todo mundo brincar junto.

Pra quem chegou agora, Crossplay é a palavra que estão usando para definir a possibilidade de jogadores enfrentarem ou se unirem a outros usuários online em plataformas diferentes, concorrentes ou não. Porém obviamente quando são concorrentes é ainda mais impactante, pois até alguns anos atrás essa possibilidade nem existia na cabeça das pessoas.

Tudo começou a ganhar tração ironicamente no PlayStation 4 quando Rocket League permitiu crossplay entre jogadores do PS4 e PC. Desde então a popularidade e temática de Rocket League começou a empurrar a bandeira do crossplay, pois afinal era um jogo com apelo tão universal quanto o futebol e fazia realmente sentido que estivesse disponível em todas as plataformas.

O PS4 permite crossplay com PC, o Xbox One permite crossplay com PC, mas apesar de a produtora ter insistido muito, não conseguiu fazer crossplay entre PlayStation 4 e Xbox One. Na época ainda não sabíamos quem estava barrando o que, mas até entendemos, são concorrentes, não faz sentido se darem bem. Curiosamente na época a diferença de vendas entre as duas plataformas não era tão grande e nenhuma das empresas ligou pra isso.


Atualmente Rocket League está disponível até mesmo para o Switch e foi a Nintendo quem mais surpreendeu quando o assunto é crossplay. Apesar de ser muito retrógrada em várias situações, a Nintendo resolveu criar uma ponte de amizade com a Microsoft e permitir crossplay entre o Switch, Xbox One e PC. Esse relacionamento provavelmente começou ainda com as versões de Minecraft para Wii U e Switch.

Quando a Microsoft comprou Minecraft, manter as versões do jogo que já existiam provavelmente era uma obrigação da empresa, porém ela definitivamente não era obrigada a lançar novas versões para consoles que não eram dela como o Switch e o Nintendo 3DS, ainda assim ela o fez. Provavelmente a Nintendo teve que ir atrás da Microsoft para conseguir a versão do 3DS já que ela não aconteceu muito naturalmente.

Agora essa gentileza parece gerar frutos extremamente proveitosos para a Microsoft pois a Nintendo está parecendo sua amiga em propagandas sobre Crossplay. Se tanto Sony quanto Nintendo bloqueassem Crossplay, seria apenas mais uma prática da indústria que ninguém reclamaria, mas quando a Nintendo aceitou e inseriu Crossplay em jogos como Rocket League, Minecraft e Fortnite, obviamente colocou a bola na quadra da Sony e deu a ela automaticamente uma imagem de vilã.

A Sony já domina a geração com quase 80 milhões de PlayStation 4 vendidos contra 20 milhões de Xbox One e até o momento 20 milhões também do Nintendo Switch. Como líder, não era vantajoso para a Sony se abrir às outras plataformas e não é incomum que a Microsoft se pinte como defensora dos interesses do público, quando todos sabemos quais eram as reais intenções da empresa no início da geração.


O antigo CEO da Sony Online Entertainment, John Smedley, comentou que em sua época a razão para não fazerem Crossplay era puramente dinheiro, mas nesse caso não seria bem Crossplay e sim um "CrossMoney". Não é que a empresa não queira que pessoas joguem entre plataformas, eles não querem que as pessoas façam suas compras digitais no Xbox One e depois usem esses mesmos itens no PlayStation 4 sem que a Sony ganhe algo com isso.

A própria Nintendo apesar de permitir Crossplay em Fortnite estava bloqueando moeda virtual V-Buck comprada em outras plataformas. Isso fazia com que mesmo com uma conta unificada o saldo do jogador ficasse espalhado por múltiplas plataformas. Ninguém reclamou a respeito disso, como se todo o alarde e pressão tivessem agendas bem específicas.

Agora a Sony cedeu no quesito Crossplay e eu vou comentar por que não acho isso uma boa ideia. O conceito de todos jogarem juntos é maravilhoso, mas não tem necessariamente um bom lado prático. Não há muitas leis a respeito de crossplay e não sabemos quais são os acordos que as empresas estão firmando nos bastidores. Pode demorar até vermos os primeiros casos polêmicos sobre isso, mas a certeza é que veremos.

Se o seu vizinho tem um vespeiro no quintal, você joga uma pedra nele e acaba severamente ferido pelas picadas das vespas, a culpa é sua que provocou a ação ou do seu vizinho que foi negligente? E quando esse caso é ampliado para o âmbito online? O que acontece se algum dano for causado a uma pessoa em uma plataforma por um usuário que veio de outra rede?


Imagine se um usuário da Xbox Live aliciasse usuários da PSN para um golpe de venda de V-Bucks, se um usuário da Nintendo Online fosse assediado por um usuário da PSN, se jogando Fortnite no Switch o jogo fosse invadido por cheaters do Xbox One. Com as três empresas tão enroladas entre si é de se esperar que o consumidor leve a pior nessa e até tenha que lidar com um jogo de empurra-empurra.

A segurança das outras redes passará a se tornar também um problema de cada empresa individualmente, pois cada falha de segurança nelas poderá ser uma porta de entrada para um problema em outra plataforma. Se algo assim acontecesse, a Nintendo seria responsabilizada por sua clássica segurança frouxa?

Quando o Nintendo Switch foi hackeado, usuários colocaram imagens pornográficas em Super Mario Odyssey, mas e se fosse Rocket League? Em GTA 5 um hacker usando versões alteradas do jogo conseguiu se passar pela Rockstar e enviar uma mensagem de "pré-venda de GTA 6" com um link falso. Legalmente será uma loucura quando essas ocorrências envolverem redes diferentes e rivais pois cada plataforma tem níveis diferentes de segurança e abertura.

Dependendo dos acordos ou de como os tribunais decidirem futuras disputas (o que deve levar uma boa década), algumas empresas poderiam até ser devastadas por indenizações milionárias ou multas previamente estabelecidas. O que para a Microsoft não é problema nenhum, mas tanto Nintendo quanto Sony têm reservas limitadas.

Da forma como é feito atualmente o Crossplay não é uma boa opção para nenhuma das empresas, pelo simples fato que seus serviços online são gargalos para controlar quem entra na jogatina. No PC o multiplayer online é gratuito e praticamente sem moderação, o que abre espaço para uma comunidade bastante tóxica e repletas de cheaters. Muitos jogos são injogáveis no PC devido a trapaceiros.


Isso tudo para não falar de más intenções, pois se tem algo que a indústria não parece ter limites é para más intenções. Não seria impossível para uma empresa pegar seus jogadores conhecidamente cheaters e pareá-los especialmente contra a rede de outro videogame para prejudicar a imagem de um concorrente. Mesmo hipoteticamente é assustador o que podemos ver nos próximos anos.

Mais do que nunca o online está integrado nos consoles, a ponto de nem parecer que era uma grande novidade uma geração atrás. No entanto, quanto mais os jogos dependem da parte online, mais dependemos de uma estrutura igualmente preparada para suportá-los, o que não tem acontecido ultimamente. Problemas de matchmaking, toxicidade e falhas técnicas podem estragar jogos outrora bons.

Ao unificar todas as plataformas em uma só será jogado um holofote em todos esses problemas e ao invés de resolvê-los poderá se tornar um grande jogo de culpar uns aos outros: "Jogadores do PlayStation xingam mais", "Jogadores do Xbox são mais machistas", "Jogadores da Nintendo desconectam mais das partidas", "jogadores do PC trapaceiam mais".

É um admirável mundo novo online que promete ser uma experiência ainda mais conturbada do que as que estávamos vivendo até agora.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Fim da Telltale Games, Clementine irá lembrar disso


A Telltale Games, empresa que fazia vários jogos episódicos das mais variadas franquias, anunciou sua falência recentemente e não foi uma surpresa tão grande para quem acompanhava esses jogos. Como dizia um famoso comediante, "Eu quero ser apenas saudável o suficiente para quando eu morrer as pessoas ainda perguntarem "de que?"". Vamos lembrar um pouco da história da Telltale Games e ver onde ela errou.

Basicamente, a Telltale Games foi fundada em 2004 para produzir jogos simples, uma espécie de nova geração de jogos do gênero "Point and Click" (Apontar e Clicar) que haviam sido deixados pra trás pela indústria. Para produzi-los com gráficos modernos ela criou uma engine própria para gerar gráficos em 3D, mas veja bem, isso era 2004.

Fazia sentido então que essa companhia que queria ressuscitar os games de aventura de apontar e clicar fosse atrás de franquias do estilo. Tivemos então o retorno de Sam & Max, os quais não eram muito lucrativos em 2D devido ao alto custo de animar os personagens, o retorno de Monkey Island, o qual a LucasArts já não tinha muito interesse de produzir e versões novas de franquias que faziam um razoável sucesso no PC como CSI.


Então a Telltale pegou suas primeiras grandes franquias, séries de filmes que já não recebiam novos conteúdos na época: Jurassic Park e De Volta Para o Futuro (Back to the Future). Foi aqui que eles começaram a sair um pouco da sua zona de conforto. Como eram franquias meio mortas ninguém tinha expectativas muito altas e Jurassic Park realmente não os levou a lugar nenhum. Mas Back to the Future agiu praticamente como um quarto filme após a trilogia e aumentou bastante a mitologia da série.

Parece ter sido na forma como eles lideram com essas franquias que fez com que eles entrassem em contato com a série The Walking Dead de Robert Kirkman, a qual na época estava começando a ganhar atenção na TV e já era um sucesso nos quadrinhos. Este foi um ponto de virada para a Telltale Games que subitamente se tornou um dos garotos grandes do playground.

O primeiro jogo de The Walking Dead da Telltale era incrível, principalmente porque era muito bem escrito assim como as HQs. A história era visceral, desesperadora e havia momentos em que ser um jogo tornava a história individualizada, como escolher quem vai receber comida quando não há suprimentos pra todos. Ele também nos apresentou ao clássico sistema de escolhas da Telltale, que geravam consequências na história. Tudo isso era amarrado com uma nostálgica jogabilidade de Point and Click e tudo estava bem no mundo.

O jogo foi muito aclamado por público e crítica, porque era realmente bom assim, ao ponto de muita gente chorar no final de tão envolvente. As escolhas em geral pareciam alterar significantemente a história e até fazer com que personagens chegassem mais longe ou não na sua história do que na de outras pessoas.


No entanto as escolhas não eram tão profundas assim e a maior parte da história estava sempre sob um trilho impossível de ser alterado. Por ser o primeiro jogo da Telltale tudo parecia ser verdade e "Clementine irá lembrar disso" parecia uma promessa real. Até certo ponto elas foram verdade, mas acho que nunca da forma como os jogadores esperavam que seriam.

A Telltale Games pegou essa ilusão de escolha e fez o que qualquer ilusionista sabe que não deve fazer, repetiu o truque várias vezes diante da mesma plateia. Após perceber o sucesso de The Walking Dead foram vários jogos em sequência nos anos seguintes como Tales from the Borderlands, The Wolf Among Us, Game of Thrones e uma segunda temporada de The Walking Dead.

Os jogos não eram ruins, mas de repente os produtos da Telltale se tornaram algo formulaico e o mais importante, eram jogos que contavam apenas histórias, não tinham mais uma jogabilidade relevante. Havia claro a necessidade de ter que guiar os personagens a fazer algo e a jornada não progredir até você descobrir o que e Quick Time Events no qual você precisava apertar um botão, porém não havia qualquer liberdade dentro desses trechos.

Chegou um momento em que todos sabiam o que esperar de um game da Telltale e eles começarem a entrar em promoções e serem distribuídos de graça em serviços de assinatura como PS Plus e Games with Gold. Provavelmente o ponto mais baixo da empresa, assim como dos jogos da série The Walking Dead foi o game dedicado a Michonne em 2016, com apenas 3 episódios, praticamente sem escolhas e sem revelar nada sobre a personagem ou sua vida anterior (evitando dar spoilers, na HQ muito mais já foi explicado).


As escolhas passaram a determinar menos para onde a história ia e mais sobre quem sobrevivia e assim destravava novos diálogos ou tinha pequenas referências a escolhas passadas em episódios futuros, o que era bastante monótono. Logo a Telltale se tornou mais uma daquelas empresas que prometem uma grande aventura cheia de escolhas que nada mais fazia do que colocar o jogador sempre no mesmo caminho.

Demorou muitos anos para a Telltale Games chegar a Walking Dead e levou muitos mais para ela começar a se mexer novamente. Apenas há poucos anos ela havia decidido mudar sua engine gráfica, a qual ainda era a mesma de 2004 e já apresentava muitos problemas como travadas ao mudar de cena que muitas vezes faziam você morrer à toa.

Estranhamente eu diria que um dos pontos altos da empresa foi justamente em Minecraft: Story Mode. Acho que ninguém esperava que esse jogo ficasse bom e isso deu uma chance ótima à Telltale para surpreender e mostrar do que realmente era capaz. A campanha ficou divertida, cheia de referências e metalinguagem para fãs de Minecraft e ainda teve episódios extras sobre mais elementos desse mundo, incluindo YouTubers.

A segunda temporada de Minecraft: Story Mode mostrou ainda o que poderia ser uma evolução para a Telltale. O jogo oferece um sistema de combate interessante e conta até mesmo com lutas contra chefões, as quais ofereciam um desafio real tanto de jogabilidade quanto estratégia, algo que remete ao que um videogame de verdade deveria ser.


Porém, já era tarde demais. A boa vontade do público com a empresa já havia se esgotado faz tempo. Quando ouvimos que a Telltale havia declarado falência ninguém demonstrou surpresa, mais provável termos imaginado "também... pudera".

Foi como se em algum momento eles achassem que não precisavam mais fazer jogos, só precisavam contar histórias.

Como a Nintendo pretende inflar as vendas do Switch


Em Julho de 2018 o Nintendo Switch atingiu a marca de 20 milhões de unidades vendidas, uma boa marca que deveria ter sido atingida um pouco antes em março, mas aqui entramos em uma questão. Um ano após o lançamento do Switch as vendas estão desacelerando devido a falta de jogos e a Nintendo deve estar ficando preocupada, pois a boa vontade do público e da imprensa podem se virar rapidamente.

Percebi recentemente que a Nintendo ligou o modo desespero pra esse final de ano, pois não parece acreditar que vão atingir a meta de vendas a menos que deem um jeito de inflar as vendas do Switch, artificialmente aumentar as vendas através de um custo para eles. Logo em seu segundo ano a Nintendo já pretende encher o Switch de bundles e cá pra nós, alguns são estranhos.

Se o Switch estivesse indo tão bem quanto as notícias e os fãs gostariam de acreditar, esta não seria uma temporada de festas com bundles, seria uma época para se produzir o máximo de unidades padrão possíveis para atender uma demanda desenfreada, como aconteceu com o Wii que vivia esgotado. Bundles por outro lado são quando você já não acredita tanto no valor do seu produto e oferece algo mais para que as pessoas o vejam como um "bom negócio".

Só neste final de ano o Switch terá bundles com seus maiores lançamentos: Super Smash Bros. Ultimate e Pokémon Let's Go Pikachu & Eevee (dois bundles). Além de criar um quarto bundle bem estranho com... Fortnite. A popularidade de Fortnite é inegável, mas ele é um jogo gratuito. A Nintendo está vendendo um bundle que é um console, um jogo e moeda virtual para esse jogo, algo que se aproveita do nome mas não necessariamente oferece bom valor ao consumidor.


Esta estratégia de inflar vendas com bundles foi muito usada na época do Nintendo 3DS, mas não foi algo que aconteceu de cara (apesar que ele teve o corte de preço monstro), apenas quando as vendas desaceleraram começamos a ver incontáveis versões do videogame. Bundles agitam colecionadores que queiram ter versões exclusivas do videogame, espertalhões que compram para revenda no eBay sabendo que eles valorizarão e até mesmo compras de impulso por pessoas que talvez não comprassem o videogame em outra ocasião.

Tudo isso é um reflexo do Switch não estar expandindo seu público e sua principal fonte de alimentação ser de fãs da Nintendo, um grupo que tem um teto. Se você comprou um Switch por The Legend of Zelda: Breath of the Wild já está na seca há mais de um ano sem outra grande aventura épica em mundo aberto, e se BOTW for o único jogo que interessar um certo tipo de consumidor no Switch é de se esperar que ele esteja desanimado.

Pessoas que jogavam Wii Sports rapidamente se converteram em público para coletâneas de minigames, para games musicais e assim por diante. Um público que compra um console por Breath of the Wild não vai se converter em público para ports de Wii U, para jogos de plataforma sem desafio nenhum como Kirby e Yoshi ou para spin offs como Luigi's Mansion 3.


O excesso de ports do Wii U para o console como o recém anunciado Super Mario Bros. U, um jogo de lançamento do antigo videogame, e agora o anúncio de um novo Luigi's Mansion 3 que ninguém estava pedindo, pinta um quadro muito óbvio de uma Nintendo da fase Wii U e 3DS agora no Switch. No entanto, este ainda não é o caso.

Mencionei antes como vários jogos de "segundo ano" da Nintendo estavam ausentes e como recentemente temos tido muitos anúncios apenas com logos e "em breves" como Metroid Prime 4, Animal Crossing, Pokémon, jogos que apenas existem em conceito até agora. Para não mencionar que mesmo jogos já lançados estão estranhos, com pouca confiança, como é o caso do Nintendo Labo que é uma boa ideia mal vendida.

A resposta para isso tudo é um pouco triste. A Nintendo ainda está sofrendo consequências do inesperado falecimento de Satoru Iwata. Todas as decisões que estamos vendo agora não são necessariamente fruto de uma Nintendo incompetente como da época do Wii U e 3DS, mas uma Nintendo um pouco sem direção e com muitos cozinheiros temperando a sopa.

Aparentemente Kimishima não tinha tanta autonomia em seu papel como presidente e algumas de suas ideias podem até ter sido aprovadas, mas sem aquele empurrãozinho que apenas um presidente pode dar ao seu produto favorito. Iwata deu empurrões monumentais na época do Wii e DS pois ele sabia qual tipo de software precisava ser lançado para seu sucesso, mas esse não era o papel de Kimishima como um presidente de transição.


Então temos a entrada do novo presidente e para quem sabe enxergar também o espaço negativo, a ausência de anúncios e de jogos, vemos que houve um vácuo durante esse período na Nintendo. Não é apenas a Nintendo não anunciando coisas, houve um vácuo de autoridade no qual ninguém parecia ter cacife para aprovar projetos que deveriam ser aprovados ou botar ênfase em projetos já lançados. Tão raro de acontecer quanto com o trem bala, a Nintendo está atrasada em sua agenda.

O videogame vai vender muito por causa de Super Smash Bros. Ultimate e Pokémon Let's Go e a Nintendo vai passar como se tudo estivesse bem com essa cortina de fumaça (e com ajuda dos fãs), mas se as coisas estivessem tão boas, o consumidor teria que gastar mais para obter o console e esses jogos, como é de costume com quem escolhe Nintendo.

O terceiro ano do Nintendo Switch será sem dúvida seu mais decisivo pois só então começaremos a ver algumas das ações do novo presidente Shuntaro Furukawa e veremos também os seus jogos de segundo ano que deveriam ter consolidado a mensagem do console mas que chegarão atrasados. Isso atrasará um pouco a agenda da Nintendo e talvez crie outro ano com muitos lançamentos como foi o primeiro do Switch, de Zelda e Mario no mesmo ano.

Normalmente o segundo ano de um console Nintendo é a segunda martelada que mostra que o prego do primeiro ano continua reto. Já o terceiro ano é deixado para jogos menores e remakes para dar espaço para Third Parties com parcerias. Agora todos esses jogos poderão acabar colidindo e gerar um efeito cascata bem mais complexo do que a maioria dos jogadores pode imaginar.