domingo, 31 de dezembro de 2017

Review: Yooka-Laylee parece um jogo velho, não retrô


Yooka-Laylee é um jogo que eu tive bastante vontade de fazer review quando foi lançado mas não foi possível devido ao tempo, então agora que ele está ganhando uma nova versão para o Nintendo Switch é uma boa oportunidade de revisitar o assunto. Ele foi produto de uma campanha de financiamento coletivo com alguns antigos funcionários da Rare cujo objetivo era criar um sucessor espiritual para a clássica série Banjo-Kazooie do Nintendo 64.

Algumas coisas foram mantidas retrô para remeter à clássica série que estreou no console de 64 Bits da Nintendo enquanto outras foram atualizadas para que o jogo continuasse relevante mesmo nessa geração. O resultado surpreendentemente é um jogo que nem consegue capturar o charme de antigamente nem o polimento da atual geração, acabando como se fosse um título medíocre do PlayStation 2.

Julgue o livro pela capa

A história começa com um livro especial que Yooka e Laylee possuem mas não dão muito valor, até que o vilão rouba as páginas mágicas do livro, as Pagies que são o principal colecionável, e eles precisam recuperá-las. Não há muito para se saber sobre os personagens e suas motivações, o que é uma pena já que Banjo-Kazooie nos lançava em uma jornada contra o tempo para resgatar a irmã raptada de Banjo.

Yooka e Laylee têm personalidades parecidas com Banjo e Kazooie como era de se esperar e alguns de seus diálogos são interessantes e divertidos, porém seus visuais são extremamente genéricos. A impressão é que a dupla poderia ser substituída por outros animais semelhantes sem ninguém perceber. Enquanto isso personagens como Trowzer tem um ótimo design e ele poderia até mesmo estrelar seu próprio jogo.


Capital B é um bom vilão no estilo capitalista malvado, mais conectável pelos temas atuais do que a bruxa Gruntilda, e o Dr. Quack é carismático com seu estereótipo de cientista louco. Há muitos outros personagens genéricos que parecem ter sido criados por pessoas sem experiência no ramo dos games, desde os pequenos monstrinhos Corplets até os Googly Eyes, que apesar de criativamente tomarem objetos como corpos, não têm muita personalidade própria por conta disso.

Yooka quiere ser Banjo y su mamá no lo deja

A jogabilidade é o que você esperaria de um jogo de plataforma básico e clone de Banjo-Kazooie, muitos movimentos tirados diretamente do urso, mas também alguns originais. Infelizmente os movimentos especiais gastam uma barra de energia especial, então mesmo alguns divertidos como rolar para ir mais rápido não podem ser usados com muita frequência. A energia se regenera automaticamente porém demora um pouco mais do que é confortável esperar.

Um ponto que parece bastante retrô e que não deveria é a câmera, que parece ter ficado presa na era do Nintendo 64. Você tem duas versões dela, uma ativa que finge que te ajuda a acompanhar a ação (finge, porque tenho certeza que ela te sacaneia de propósito) e uma passiva que em teoria fica parada enquanto você se move... só que não.

A primeira câmera é péssima e se move quando você não quer, atrapalhando os saltos, enquanto a segunda parece que vai ser melhor ao ficar parada porém ela consegue a façanha de esbarrar em objetos do cenário e assim mudar sua visão de um jeito ainda mais imprevisível. Se não me engano essa segunda câmera passiva foi adicionada em uma atualização, mas o jogo continua sem uma câmera boa.


Direto do túnel do tempo

Após invadir a empresa de Capital B, a Hivory Towers, os jogadores podem encontrar livros mágicos que os levam para dentro de mundos, bem parecido como Mario entrava em quadros em Super Mario 64. Um toque que começa criativo mas se perde é a possibilidade de usar Pagies para ampliar os mundos. Imagine que interessante se as fases de Super Mario 64 pudessem ser aumentadas com estrelas. Porém aqui só parece um incômodo que faz você ficar indo e voltando entre uma versão Beta do mundo e a final. Imagine explorar um local apenas para ver que não tem nada lá... por enquanto.

Dentro das fases há vários personagens que precisam de ajuda para realizar alguma tarefa sem graça e pagar você com um Pagie, transformando Yooka e Laylee em office boys glorificados. As missões não estão simplesmente lá para você resolver, é preciso falar com cada personagem para ativá-las e resolvê-las, um design cansativo e que parece velho, não com aquele charme e inocência da época do Nintendo 64, mas com aquela falta de polimento do PlayStation 2.

As missões são chatas, com desafios criados dentro da própria jogabilidade, como corridas usando alguma habilidade especial, ter que derrotar inimigos ou impedi-los de fazer algo... é monótono e frustrante porque a jogabilidade não é tão prazerosa assim para carregar o jogo nas costas. Por vários momentos me senti jogando algo que não envelheceu bem, como um Jak & Daxter.

O design das fases é desinteressante, genérico como muitos dos personagens. Elas são grandes porém não há qualquer motivo para explorá-las, todo o jogo estabelece corredores artificiais que fazem você sempre estar indo em linha reta de um local para o outro onde algum personagem estiver parado com uma missão. É como se alguém tivesse criado as fases primeiro e depois outra pessoa tivesse colocado as missões nela, deixando grandes espaços abertos não utilizados, que não tem motivo para você explorar.


Uma parte que melhorou através de atualizações foram os minigames espalhados pelo jogo. Quem teve a chance de jogar na época do lançamento foi agraciado com péssimos controles que tornavam os minigames irritantes. Hoje os controles foram melhorados e deixaram os minigames toleráveis, mesmo que não particularmente prazerosos.

Toda fase conta também com 5 criaturas mágicas para encontrar, as quais em Banjo-Kazooie eram os Jinjos e aqui têm o nome criativo de "Ghost Writer", nome dado a escritores que não são creditados em suas obras, uma tirada genial dado o tema de livros. Infelizmente eles não são tão divertidos de procurar e cada um tem uma forma diferente de ser capturado, a qual não é tão intuitiva.

A busca pelos colecionáveis é cansativa, sejam eles quais forem. Coletar Pagies é chato mas obrigatório, coletar notas músicas é necessário para comprar itens, coletar os Ghost Writers fica cansativo e quando você chega no cassino é preciso coletar colecionáveis para poder coletar colecionáveis... é de cair o Kazooie do Banjo.

Sem Fur Shading

Algo que chama atenção de cara é que graficamente o jogo é muito colorido e vibrante de uma forma que simplesmente não se faz mais hoje em dia. A grama não é apenas verde, é aquele verde limão brilhante, tudo tem alto contraste e saltando aos olhos. Isso lembra bastante o estilo de Banjo-Kazooie e felizmente menos o estilo mais sombrio de Banjo-Tooie.


Uma das melhores partes do jogo é a música garças a terem conseguido antigos talentos da época da Rare em Donkey Kong Country e Banjo-Kazooie. Nomes como Grant Kirkhope, David Wise e Steve Burke fizeram uma diferença tremenda no setor sonoro que está realmente no mesmo nível que se esperaria de um novo Banjo-Kazoie.

Os efeitos sonoros são bacanas, todos bem cartunizados e os personagens quando falam apenas fazem grunhidos como na época de Banjo-Kazooie, uma técnica antiga usada para economizar espaço em cartuchos. Muitas pessoas não gostaram disso e preferiam diálogos dublados, mas eles são ok, têm um certo charme retrô.

Traz o rapaz 9 de volta

Yooka-Laylee é um jogo que deveria parecer retrô mas parece apenas velho, arcaico até, sem conseguir fazer algumas coisas básicas direito e com certeza sem nenhum do charme clássico que fazia jogos do Nintendo 64 como Banjo-Kazooie se destacarem tanto até os dias de hoje. Ele traz um amontoado de colecionáveis e tarefas que são apenas isso, coisas para obter e fazer, sem oferecer ao jogador qualquer diversão no processo, até o frustrando.

Nota: 5/10



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