Recentemente a Nintendo realizou uma transmissão ao vivo no Japão para seu novo videogame, o Nintendo Switch. Foram apresentados mais detalhes sobre o console como data de lançamento para 3 de março e preço de US$ 300. Entretanto, uma coisa muito importante esteve ausente nessa transmissão: mudança. Veja do que eu estou falando.
A palavra "Switch" do inglês pode significar "trocar" e "mudar", mas o que vimos foi a mesma Nintendo de sempre. "Switch" também significa "interruptor", um dispositivo que só funciona em dois estados: ligado ou desligado. Este por sua vez representa o bom senso da Nintendo, que parece não existe em meio termo, apenas em ON e OFF.
Eu não esperava muito do Switch e a Nintendo me entregou exatamente isso, algo razoável mas não impressionante. No entanto muitas pessoas esperavam ser impressionadas pelo Switch e mais uma vez a Nintendo desperdiçou uma oportunidade e a boa-fé de quem ainda esperava que ela pudesse fazer diferente.
Para começo de conversa, o horário da conferência: 2 da tarde no Japão, 2 da manhã no Brasil e em fusos semelhantes para o ocidente. A Nintendo sabe que o interesse no Switch é global, que seus fãs irão querer saber as novidades de seu console o mais cedo possível, e qual horário ela marca? Um que apenas faz sentido para o Japão.
Conferência tão cedo que ainda tava dando Globo Rural
Há muito tempo a Nintendo parece cega para o resto do mundo e pensa apenas no que se passa no Japão, depois fica surpresa com a disparidade entre regiões, como foi a falta de preparo para a demanda do NES Classic. Por que o Switch tenta se vender como portátil? Porque no Japão o público prefere comprar portáteis e não investe mais tanto em consoles.
O papo de híbrido caiu por terra como já estava esperando. O Nintendo Switch não é um híbrido de console de mesa e portátil, ele é o Wii U 2 disfarçado. Durante a apresentação não houve um jogo sequer com natureza portátil, um jogo que poderíamos dizer que poderia ser lançado no Nintendo 3DS.
A única coisa que ele apresentou foi Remote Play, a capacidade de jogar longe da televisão. Porém, com bateria fraca e grande demais para ser um portátil. O forte rumor de uma versão de Pokémon Sun & Moon (fonte confiável) ainda deve se realizar, mas o fato permanece que até agora o Switch só possui jogos de console e o público já está formando sua opinião sobre ele.
Praticamente não há jogos. Os que estão anunciados deixaram uma impressão bem fraca do console. A janela de lançamento está extremamente vazia, pior do que a do Wii U. O único título forte é The Legend of Zelda: Breath of the Wild, um jogo de Wii U atrasado para segurar a barra do Switch. Não pega bem.
Em certo momento da apresentação foi dito que a Nintendo sempre tentou inovar e fala que já havia tentado trazer o conceito de portabilidade como o do Switch com o GameCube, já que ele era fácil de carregar, resistente e tinha uma alça. Então é dito que "parece que era cedo demais".
Sim, esse é o problema do GameCube para a Nintendo, ele chegou cedo demais. Nós que não estávamos ainda preparados para esse brilhante conceito de levar seu videogame com você a qualquer lugar. Nunca é a Nintendo, nunca são os jogos da Nintendo, é sempre outra coisa, como o timing, o marketing, o público que "não entendeu".
Enquanto a Nintendo não admitir os seus erros, como o GameCube, ela está fadada a repeti-los. O Nintendo Switch é o GameCube, pois o Nintendo Switch é também o Wii U e o Wii U também era o GameCube. A Nintendo está repetindo o erro do GameCube há várias gerações porque ela nunca conseguiu admitir que era um erro e que deveria mudar.
Como de costume vimos o Wii ser ignorado completamente no Switch. Não há jogos como os de Wii no Switch, apenas jogos de Wii U. A questão é que os jogos de Wii U não estavam vendendo o Wii U, por que eles venderiam o Switch? Se Xenoblade Chronicle X não vendeu o Wii U, por que Xenoblade Chronicles 2 venderia o Switch? Super Mario Odyssey? Mario Kart 8 e Splatoon?
Para quem é o Nintendo Switch? Não pode ser para o jogador de PlayStation 4, pois não tem jogos de thirds e não tem espaço de armazenamento sem um HD externo. Não pode ser para o jogador de 3DS e PS Vita, porque não é muito portátil, não tem boa bateria e em 32 GB não pode levar tantos jogos (só Zelda é 13 GB). Não pode ser para homens adultos pois o controle é do tamanho de um brinde do McLanche Feliz.
O único público que o Switch consegue atender de fato é, surpresa, surpresa, o do próprio Wii U. Afinal, ambos têm os mesmos tipos de jogos e os títulos que o Switch passará a receber são praticamente os mesmos que estavam em desenvolvimento anteriormente para o Wii U.
Por último temos a cereja no topo, o modo online do console será pago. Oras, se Sony e Microsoft cobram pelas suas redes online, por que não a Nintendo? Porque Sony e Microsoft querem ser sua primeira opção de console e alternam-se na liderança. Um dia foi o Xbox 360, hoje é o PlayStation 4.
Você só paga uma rede pra jogar online no console que você mais gosta, onde mais passa o seu tempo, onde estão seus Call of Duty, Fifa, Rocket League, Overwatch. Já há algum tempo a Nintendo não oferece esse tipo de console, então muitas pessoas ficarão sem modo online no Switch porque já estarão pagando a rede de outro videogame.
Toda essa mentalidade de GameCube irá prender o Nintendo Switch na casa dos 20 a 25 milhões de consoles, com um teto de 40 milhões. As pessoas até curtirão o videogame, acharão legal tê-lo, mas não haverá um grande motivo para comprá-lo. Diferente do Wii U, que não atendia ninguém, a ideia de um console com Remote Play irá agradar a algumas pessoas, mas elas acabarão insatisfeitas com a falta de jogos de qualidade.
Não, o Switch não vai falhar, mas só porque o Wii U foi tão ruim. Quando a Nintendo estabeleceu uma meta de mais de 100 milhões de Wii U, vender 10 milhões foi um fiasco monumental. O Switch não parece ter metas, a Nintendo aparenta apenas querer sair do buraco em que se meteu.
Ele será um console ideal para fãs da Nintendo, obviamente, e irá alcançar um pouco do Tier 2, consumidores latentes, o que dará a impressão que ele não é tão ruim assim. Porém, ele não conseguirá atingir a grande massa, o Tier 3, os consumidores casuais que fizeram o Wii ser um fenômeno.
Tudo porque os consoles mudam, mas a Nintendo continua a mesma.
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