sábado, 14 de janeiro de 2017

Switch Child o' Mine, a Nintendo nunca muda


Recentemente a Nintendo realizou uma transmissão ao vivo no Japão para seu novo videogame, o Nintendo Switch. Foram apresentados mais detalhes sobre o console como data de lançamento para 3 de março e preço de US$ 300. Entretanto, uma coisa muito importante esteve ausente nessa transmissão: mudança. Veja do que eu estou falando.

A palavra "Switch" do inglês pode significar "trocar" e "mudar", mas o que vimos foi a mesma Nintendo de sempre. "Switch" também significa "interruptor", um dispositivo que só funciona em dois estados: ligado ou desligado. Este por sua vez representa o bom senso da Nintendo, que parece não existe em meio termo, apenas em ON e OFF.

Eu não esperava muito do Switch e a Nintendo me entregou exatamente isso, algo razoável mas não impressionante. No entanto muitas pessoas esperavam ser impressionadas pelo Switch e mais uma vez a Nintendo desperdiçou uma oportunidade e a boa-fé de quem ainda esperava que ela pudesse fazer diferente.

Para começo de conversa, o horário da conferência: 2 da tarde no Japão, 2 da manhã no Brasil e em fusos semelhantes para o ocidente. A Nintendo sabe que o interesse no Switch é global, que seus fãs irão querer saber as novidades de seu console o mais cedo possível, e qual horário ela marca? Um que apenas faz sentido para o Japão.

Conferência tão cedo que ainda tava dando Globo Rural

Há muito tempo a Nintendo parece cega para o resto do mundo e pensa apenas no que se passa no Japão, depois fica surpresa com a disparidade entre regiões, como foi a falta de preparo para a demanda do NES Classic. Por que o Switch tenta se vender como portátil? Porque no Japão o público prefere comprar portáteis e não investe mais tanto em consoles.

O papo de híbrido caiu por terra como já estava esperando. O Nintendo Switch não é um híbrido de console de mesa e portátil, ele é o Wii U 2 disfarçado. Durante a apresentação não houve um jogo sequer com natureza portátil, um jogo que poderíamos dizer que poderia ser lançado no Nintendo 3DS.

A única coisa que ele apresentou foi Remote Play, a capacidade de jogar longe da televisão. Porém, com bateria fraca e grande demais para ser um portátil. O forte rumor de uma versão de Pokémon Sun & Moon (fonte confiável) ainda deve se realizar, mas o fato permanece que até agora o Switch só possui jogos de console e o público já está formando sua opinião sobre ele.

Praticamente não há jogos. Os que estão anunciados deixaram uma impressão bem fraca do console. A janela de lançamento está extremamente vazia, pior do que a do Wii U. O único título forte é The Legend of Zelda: Breath of the Wild, um jogo de Wii U atrasado para segurar a barra do Switch. Não pega bem.


Em certo momento da apresentação foi dito que a Nintendo sempre tentou inovar e fala que já havia tentado trazer o conceito de portabilidade como o do Switch com o GameCube, já que ele era fácil de carregar, resistente e tinha uma alça. Então é dito que "parece que era cedo demais".

Sim, esse é o problema do GameCube para a Nintendo, ele chegou cedo demais. Nós que não estávamos ainda preparados para esse brilhante conceito de levar seu videogame com você a qualquer lugar. Nunca é a Nintendo, nunca são os jogos da Nintendo, é sempre outra coisa, como o timing, o marketing, o público que "não entendeu".

Enquanto a Nintendo não admitir os seus erros, como o GameCube, ela está fadada a repeti-los. O Nintendo Switch é o GameCube, pois o Nintendo Switch é também o Wii U e o Wii U também era o GameCube. A Nintendo está repetindo o erro do GameCube há várias gerações porque ela nunca conseguiu admitir que era um erro e que deveria mudar.

Como de costume vimos o Wii ser ignorado completamente no Switch. Não há jogos como os de Wii no Switch, apenas jogos de Wii U. A questão é que os jogos de Wii U não estavam vendendo o Wii U, por que eles venderiam o Switch? Se Xenoblade Chronicle X não vendeu o Wii U, por que Xenoblade Chronicles 2 venderia o Switch? Super Mario Odyssey? Mario Kart 8 e Splatoon?


Para quem é o Nintendo Switch? Não pode ser para o jogador de PlayStation 4, pois não tem jogos de thirds e não tem espaço de armazenamento sem um HD externo. Não pode ser para o jogador de 3DS e PS Vita, porque não é muito portátil, não tem boa bateria e em 32 GB não pode levar tantos jogos (só Zelda é 13 GB). Não pode ser para homens adultos pois o controle é do tamanho de um brinde do McLanche Feliz.

O único público que o Switch consegue atender de fato é, surpresa, surpresa, o do próprio Wii U. Afinal, ambos têm os mesmos tipos de jogos e os títulos que o Switch passará a receber são praticamente os mesmos que estavam em desenvolvimento anteriormente para o Wii U.

Por último temos a cereja no topo, o modo online do console será pago. Oras, se Sony e Microsoft cobram pelas suas redes online, por que não a Nintendo? Porque Sony e Microsoft querem ser sua primeira opção de console e alternam-se na liderança. Um dia foi o Xbox 360, hoje é o PlayStation 4.

Você só paga uma rede pra jogar online no console que você mais gosta, onde mais passa o seu tempo, onde estão seus Call of Duty, Fifa, Rocket League, Overwatch. Já há algum tempo a Nintendo não oferece esse tipo de console, então muitas pessoas ficarão sem modo online no Switch porque já estarão pagando a rede de outro videogame.

As plataformas Nintendo não tem mais tentado brigar pela primeira posição. Desde o Wii a empresa apenas lança ideias novas e torce pelo sucesso, como se o Wii tivesse sido sorte. Isso fez com que os videogames da Nintendo se tornassem plataformas secundárias, boas para jogar um ou outro exclusivo, como era na época do GameCube, porém sem moral para cobrar pelo serviço online, pois não são sua plataforma principal.


Toda essa mentalidade de GameCube irá prender o Nintendo Switch na casa dos 20 a 25 milhões de consoles, com um teto de 40 milhões. As pessoas até curtirão o videogame, acharão legal tê-lo, mas não haverá um grande motivo para comprá-lo. Diferente do Wii U, que não atendia ninguém, a ideia de um console com Remote Play irá agradar a algumas pessoas, mas elas acabarão insatisfeitas com a falta de jogos de qualidade.

Não, o Switch não vai falhar, mas só porque o Wii U foi tão ruim. Quando a Nintendo estabeleceu uma meta de mais de 100 milhões de Wii U, vender 10 milhões foi um fiasco monumental. O Switch não parece ter metas, a Nintendo aparenta apenas querer sair do buraco em que se meteu.

Ele será um console ideal para fãs da Nintendo, obviamente, e irá alcançar um pouco do Tier 2, consumidores latentes, o que dará a impressão que ele não é tão ruim assim. Porém, ele não conseguirá atingir a grande massa, o Tier 3, os consumidores casuais que fizeram o Wii ser um fenômeno.

Tudo porque os consoles mudam, mas a Nintendo continua a mesma.

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