terça-feira, 20 de setembro de 2016

Review: Undertale tem mais carisma que determinação


Undertale é um jogo independente para PC criado todo por um único cara chamado Toby Fox, que se tornou um fenômeno no último ano e como na época eu não tive tempo de fazer uma review, pensei em fazê-la agora em seu aniversário. O jogo foi aclamado por ser extremamente criativo e carismático em várias áreas, porém como muitos RPGs ele peca por não dar poder suficiente ao jogador e apresentar muitas escolhas que no fundo são ilusórias.

Um conto embaixo

A história acompanha um garoto que caiu em uma fenda que leva para um mundo subterrâneo habitados por monstros, porém não do tipo feiosos e agressivos, criaturas civilizadas. Os monstros têm seus motivos para odiar os humanos, já que foram presos no submundo por uma barreira mágica.

No papel desse garoto seu objetivo é embarcar em uma jornada pelo mundo dos monstros em busca de um caminho de volta. Ao confrontar as criaturas que ali habitam você sempre terá duas opções: vencê-las pela força ou tentar conversar até convencê-las a parar de atacar.


Os personagens e diálogos de Undertale são alguns de seus pontos altos. As falas são divertidas, os inimigos são carismáticos, a história sabe ficar mais profunda e sombria quando precisa para pegar o jogador de surpresa e os vilões têm boas motivações que apresentam bem.

Coração cheio de determinação

Normalmente você atravessa o mapa como em qualquer RPG, com batalhas aleatórias que interrompem a sua aventura. Se decidir lutar contra os inimigos, tudo se resolve de maneira relativamente rápida. No entanto, se decidir falar com eles é um pouco mais complicado achar seus pontos fracos para fazer com que eles parem de lutar.

O foco do sistema do combate no entanto, fica por conta do round de defesa. Quando os inimigos atacam o jogador, você assume o comando de um pequeno coração confinado em um quadrado na tela. Seu objetivo é escapar dos ataques que serão desferidos contra esse coração para assim não tomar dano.


Os ataques são um misto de jogos de nave em que você precisa desviar de tiros por todos os lados, minigames rítmicos nos quais você precisa calcular o seu timing para não ser pego por um ataque e também sessões de plataforma com algum tipo de objeto que causa dano e plataformas que ajudam você a se manter seguro.

Enquanto o sistema de defesa é bem criativo e a opção de tentar falar com seus oponentes para fazê-los desistir da bataha é complexa, não há tanta profundidade para atacar. O jogo claramente têm um jeito preferido de lidar com as batalhas, Undertale não é um jogo em que você "pode" resolver as coisas sem violência, é um jogo em que você "deve".


Neste ponto o jogo não permite que você viva uma das partes mais essenciais de um RPG, que é simplesmente decidir como evoluir seu personagem através das batalhas. Caso você tome um caminho mais violento poderá acabar ficando preso em uma "rota violenta" a qual levará você a um final ruim.

Extremos artísticos

Os gráficos do jogo são em 8 Bits com alguns traços que lembram um pouco Mother 3 pelo pouco uso de sombreamento e foco em cores fortes e puras. Em batalha o estilo gráfico muda para um preto e branco levemente animado tão simples quanto o original. Algumas vezes o visual do jogo não consegue passar bem o que está acontecendo, mas na maior parte do tempo dá conta do recado.

Se por um lado os gráficos podem ser simples, por outro as músicas são soberbas. Undertale tem provavelmente o melhor setor sonoro que já ouvi em um jogo independente com algumas músicas incrivelmente marcantes. Um dos melhores exemplos é o da música "Megalovania" de um dos chefes finais.


Toda flor tem seus espinhos

A minha impressão geral de Undertale é bastante positiva no setor técnico com a música, no carisma de seus personagens, em sua história profunda e até no sistema de batalha criativo. É um jogo que dá pra entender como os fãs foram fisgados por esses elementos isolados. Porém, como jogo ele oferece muito pouco espaço para o jogador se manifestar, principalmente como um RPG.

Undertale tem três finais, porém apenas um é o verdadeiro e caso você pare em algum dos outros perderá grande parte do jogo. Apesar de dar a entender que é possível escolher entre enfrentar os monstros ou não, só é possível obter a verdadeira experiência do jogo seguindo o caminho que o criador planejou, algo que acaba por deixar a experiência linear.

Neste ponto Undertale se mostra muito semelhante a jogos como Inside: uma bela experiência guiada, ainda que com mais elementos de jogabilidade, mas que também poderia ser meramente absorvida como um filme pelo YouTube, pois o jogador não está no papel do motorista, é apenas o carona.

Nota: 6/10

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5 comentários:

  1. Isso que você falou da linearidade e de haver um caminho "correto" para seguir se manifesta bem nos chefes finais. Na rota True Pacifist você não pode ser derrotado; o chefe pode até te matar, mas você sempre volta e recomeça de onde parou na luta. Na rota Genocide, temos o chefe mais difícil e desgraçado do jogo; é como se o criador estivesse mostrando o dedo do meio pra quem escolhe ser violento.

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    1. Acho que fica meio óbvio que a rota Genocide é a que você deve seguir por último, por isso o desafio dela é alto assim

      Realmente ressalta a linearidade

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  2. Realmente senti falta de liberdade no jogo e é frustrante o quanto há preferência pela rota pacífica. No entanto, eu fui conquistado pelo carisma do jogo, pelo sistema de batalhas e pelas músicas de tal forma que arrisco a dizer que foi o jogo que mais fiquei feliz por jogar em 2015, me emocionei de verdade com a história e me diverti muito nas batalhas. Acho, no entanto, que sua crítica é perfeita, talvez com o 6 soando um pouco rude, mas a escrita é muito precisa :)

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    1. É, a nota é um pouco dura, assim como a de Inside, Abzû, porque ela é dada para o jogo em si e ambos são bem fracos na parte jogável.

      Apesar de esses jogos apresentarem momentos épicos e carisma, o que você realmente faz no jogo é muito pouco. Basicamente te sentam em uma cadeira e te mandam absorver o que está na tela.

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    2. Sim, não discordo de uma vírgula do seu argumento. Minha relação com Undertale é a mesma relação que você tem quando gosta de uma música sabendo que ela não é necessariamente boa. Amo reconhecendo as falhas.

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