quarta-feira, 31 de agosto de 2016
Nintendo e a arte do Tegotae
Um dos motivos pelos quais a Nintendo é uma potência no mundo dos jogos até hoje é que os seus jogos têm um algo especial, um quê de inexplicável que não se encontra na Sony, Microsoft ou normalmente em qualquer outra empresa. Parte dessa mágica é um termo japonês chamado "Tegotae".
Esse termo foi mencionado por Shigeru Miyamoto durante uma entrevista sobre o jeito especial da Nintendo de fazer jogos e deu uma canseira para seu tradutor, Bill Trinen, pois não existe uma tradução direta para ele. Vamos tentar explicar da maneira mais fiel possível o que significa.
Tegotae seria algo como a resposta que você obtém ao manusear algo com as mãos, o sentido táctil que nos videogames poderia ser descrito com quão responsivo é o controle, como qual a qualidade do elo entre o momento que você pressiona para se mover e o personagem na tela realmente se move.
Porém Tegotae não é algo tão básico como se controles são bons, é um termo que descreve se a sensação é prazerosa e convincente. Para isso os personagens precisam reagir da maneira que você espera. Aquele pequeno desenho, que no fundo é um retângulo de pixels, precisa passar a sensação de movimento, peso, aceleração.
Quando jogamos a grande maioria dos jogos da Nintendo sabemos que sua jogabilidade é realmente primorosa, uma obra-prima em movimento, seja Super Mario Bros. do NES, Super Mario 64 do Nintendo 64, Super Mario Galaxy do Wii ou Super Mario 3D Land do Wii U, sempre sentimos o controle de Mario na nossa mão, o controle se torna uma extensão.
Jogos da Nintendo são gostosos de jogar e isso se deve ao Tegotae. É algo que simplesmente aprendemos a esperar da Nintendo e talvez também seja o motivo pelo qual nos decepcionamos muito mais quando ela erra, com coisas como os bizarros controles de Star Fox Zero ou outros gimmicks para controlar jogos que acabam por ferir o Tegotae.
O curioso é que a Nintendo domina essa técnica, mas não dá realmente valor a ela. Ter meramente um jogo que é prazeroso de jogar para a Nintendo não é mais suficiente. Todos os jogos precisam ter um gimmick, um truquezinho novo para justificar sua existência, que pode ser desde uma mecânica nova, como a antigravidade em Mario Kart 8, até integração com um novo hardware, como Star Fox Zero.
Enquanto não acharem uma ideia mirabolante para cada franquia, não teremos por exemplo novos capítulos de séries como F-Zero ou Metroid. Na Nintendo mais nenhum jogo é feito simplesmente porque é gostoso de jogá-lo, todos precisam de um gimmick. É assim que acabamos com jogos como New Super Mario Bros. 2 e sua mecânica de coletar ouro que estraga o jogo.
O mais triste é que isso é um desperdício. Tegotae é um estado dificílimo de alcançar na criação de jogos, vemos isso quando olhamos para as concorrentes e ninguém realmente tem jogos em que você sente o controle na sua mão como nos jogos da Nintendo. Provavelmente você não imagina o quão difícil é alcançar o Tegotae.
Nem eu consigo criar jogos com Tegotae, pois meus controles sempre são um pouco "flutuantes" demais. Em todos os meus anos com criação de jogos provavelmente só vi uma vez tal estado ser atingido, completamente por acidente por uma pessoa que nem mesmo estava tentando ou tinha ideia do que era.
Já a Nintendo que consegue usar seu Tegotae como se tocasse algumas das mais belas sinfonias sem esforço, se recusa a fazê-lo para depois realizar um remix com dubstep.
Posts relacionados:
- Cultura dos Jogos - Por que só a Nintendo vale a pena
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Cara, não sabia que a 'magia' da nintendo tinha nome. Me senti desafiado a reproduzir isso.
ResponderExcluirÉ bem difícil mesmo, até eu que já fiz vários jogos nunca consegui um controle com essa sensação
Excluir