A Nintendo acaba de chocar seus fãs ao anunciar que, pela primeira vez em anos, não terá uma conferência de imprensa na maior feira de jogos do ano, a Electronic Entertainment Expo, E3, 2013. A empresa disse que dará preferência a eventos menores fechados onde exibirá seus jogos para alguns poucos parceiros.
Não coincidentemente a notícia vem logo após o último relatório financeiro da Nintendo, onde a empresa teve prejuízo pelo segundo ano seguido. Não querendo entrar em detalhes muito técnicos, porém sites afirmaram que a empresa teve lucro, e liquidamente realmente teve, mas apenas por mudanças cambiais do Yen, a moeda japonesa. Operacionalmente, na venda de seus produtos, a empresa perdeu dinheiro.
E o que a Nintendo realmente não quer? Que existam pessoas para explicar essas coisas. Pra dizer que o 3DS não está vendendo bem, que o Wii U nunca vai emplacar, que os jogos andam ruins. Eles estão querendo calar a imprensa de jogos, torná-la irrelevante, e pretende fazer isso da maneira mais simples, com silêncio.
Isso pode parecer repentino, mas é um movimento que já vinha sendo ensaiado em anos. Aos poucos a Nintendo começou a cortar os seus laços com a realidade, permitindo que ela nos empurre a realidade dela de maneira unilateral. Diferente de outras empresas, notícias sobre a Nintendo só são divulgadas pela própria Nintendo.
Para garantir esse monopólio de informação, a Nintendo excluiu a imprensa da equação. Por isso vimos o fechamento da revista oficial Nintendo Power depois de mais de 20 anos de publicação, por isso temos hoje as conferências Nintendo Direct, e por isso não veremos a companhia na E3 desse ano.
De certa forma a Nintendo tinha razão em não gostar da imprensa, como nosso Presidente Lula também não gosta, já que era uma imprensa que não defendia os interesses do povo, apenas estava interessada em bater no líder para agradar um certo público. Essa mesma imprensa dava muito desprezo para o Wii e DS, negando sua popularidade o máximo que pudessem.
Passada a fase de ouro de ambos os videogames, sua história vem até sendo reescrita, a partir de conceitos como "Ah, eles nem eram tão bons assim", mas quem viveu essa fase se lembrará eternamente dela por uma ótica muito mais real.
Porém, assim como nosso Presidente e sua sucessora, Dilma, é a imprensa que tem que trazer discussões sobre abandonos de valores do partido e de promessas de campanha. Onde está a estratégia da Nintendo que levou ao sucesso do Wii e DS? Por que abandonar esses valores pelo Wii U e 3DS? Agora imagine uma presidência sem imprensa para questionar suas ideias, para apontar suas contradições.
A Nintendo está achando que parte dos seus problemas está sendo a forma que a imprensa a pinta, pois está em completa negação sobre suas próprias ações. Para ela o 3DS não vendia porque as pessoas não tinham como ver o efeito 3D nas propagandas, que uma vez que vissem pessoalmente, ficariam maravilhados.
Ela ainda pensa o mesmo do Wii U, acha que quem experimenta pessoalmente ficará encantado, levará um pra casa e contará para os amigos. Alguém precisa avisá-la que o videogame que fazia isso era o Wii.
Quando The Legend of Zelda: Twilight Princess foi revelado em 2004, ou mesmo quando Kid Icarus Uprising foi mostrado pela primeira vez, a imprensa vibrou. Quando The Legend of Zelda: A Link to the Past 2 foi anunciado numa recente conferência Nintendo Direct, não havia ninguém lá além de Reginald Fils-Aime, Presidente da Nintendo of America para dizer o quanto estava animado pelo jogo.
Quando executivos da Nintendo nos dão essas notícias e dizem que elas são incríveis, que base temos para duvidar? Assim, até mesmo quando eles apresentam coisas absurdas como "2013 será o ano de Luigi", eles já possuem um controle de danos embutido.
New Super Luigi U é simplesmente um DLC para New Super Mario Bros. U, que provavelmente só não veio em disco porque o jogo deve ter sido apressado para o lançamento do Wii U. Em Super Mario Galaxy e Super Mario 3D Land os níveis de Luigi vêm inclusos, mas todos sabemos que a Nintendo não valoriza Mario 2D.
Mas em momento algum a Nintendo menciona DLC, afinal, é apenas uma nova aventura para download. Infelizmente esse nível de manipulação e jogo de palavras é o mesmo que vemos na Electronic Arts e na Blizzard, quando afirmam que a exigência de conexão permanente para SimCity e Diablo 3 é na verdade um elemento essencial do jogo.
A imprensa caiu em cima de ambos os títulos e usuários de SimCity mexeram com o código do jogo e descobriram que ele poderia ser jogado offline sem problemas, diferente do que a Electronic Arts havia dito.
Você conseguiria acreditar plenamente se a Nintendo declarasse que não tirou conteúdo de New Super Mario Bros. U de propósito para acelerar o lançamento do jogo? Mas ninguém fala sobre isso, ou sobre a absurda ausência de um sistema de contas online da Nintendo, que faz com que as pessoas paguem novamente por conteúdo que já compraram no Wii. Porque quem noticia essas novidades é a própria Nintendo.
Com a extinção dos canais oficiais de imprensa, a Nintendo aprovou sua própria Pec 37, impedindo investigação, voltando-se para eventos fechados onde poderá controlar quem terá acesso às informações dela, podendo garantir que apenas sejam aqueles que tenham predisposição a falar coisas positivas da empresa. O jornalista Jim Sterling do site Destructoid, por exemplo, está em uma lista negra da Konami por ter falado mal dela.
A Nintendo já não escuta seu público e agora faz questão de não ter que escutar a imprensa também, criando uma bolha de proteção, um mundo mágico onde tudo está dando certo pra ela e ninguém questiona o que ela diz. Toda a informação é passada diretamente dela para os consumidores, sem intermediários.
Não é difícil imaginar que jogadores mais jovens e bem mais influenciáveis do que nós começarão a se acostumar a ligar nas conferências Nintendo Direct para obter as últimas novidades da Nintendo. Receber as próximas ordens. Afinal, elas têm informações que os sites não têm, por que se informar com outra fonte?
Porém, quanto mais a Nintendo se afasta da realidade e se entrega às suas próprias mentiras reconfortantes, menor é a chance de ela acordar desse coma.