A questão é que, como dito, Minecraft esteve disponível durante todos esses anos e eu o achava um jogo interessante, mas eu não o comprei. Apesar de estar bastante inclinado a fazê-lo, algo me segurava, eu pensava: "Falta objetivo", então para mim não valia a pena comprá-lo.
Se eu achava o jogo interessante, será que deveria pirateá-lo para jogá-lo sem pagar? Nessa época, Minecraft era vendido pela metade do seu preço, eu poderia pagar metade do preço dele e ainda tê-lo legalmente. O que me impeliu a não comprá-lo naquela época, porém pagar o dobro do preço satisfeito agora?
O criador de Minecraft, Markus "Notch" Persson uma vez falou sobre sua postura em relação a pirataria: "Pirataria não é roubo. Não existe venda perdida". O que ele queria dizer com isso é que é fácil se acomodar e acusar os outros de roubarem seu trabalho, ele prefere correr atrás e fazer com que os jogadores queiram pagar.
Isso soa como loucura, certo? Por que alguém pagaria por algo que eles já têm de graça? Um jogador com a versão pirata de um jogo, nunca iria comprar a original, iria? Veja este e-mail enviado para o Blog de Sean Malstrom, traduzido:
"Olá Sean, eu não tenho tipo muito tempo para escrever ultimamente, mas vou abrir uma exceção para Minecraft. (...) Eu joguei a versão pirata de Minecraft já que não gosto muito de já ter pago por jogos que mais tarde me desapontam. Eu achei que Minecraft era legal e tudo, mas como você, eu superei o jogo e senti que faltava objetivo, então não senti que deveria comprá-lo".
"(..) Quando [Notch] anunciou o "Adventure Update", ele me pegou, eu senti a expectativa e comprei, por mais do que eu pagaria na beta, porque eu senti que eu receberia o valor que eu não senti que receberia [antes]. Eu não me desapontei".
É realmente assim que eu me sinto. Não só este jogador pagou por um jogo que ele já possuía em versão pirata, como ele pagou o dobro do que precisaria pagar se tivesse comprado antes. Isso só reforça que pirataria nunca foi uma questão de preço, mas sim de valor.
O que por sua vez é mais ou menos o que diz o chefe executivo da Valve, Gabe Newell. Isso mesmo, a empresa por trás do Steam. "Achamos que há um conceito errado fundamental sobre pirataria. Ela é quase sempre um problema de serviço (valor) e não um problema de preço", diz Gabe.
E continua: "Por exemplo, se um pirata oferece um produto da conveniência do seu computador pessoal, e o vendedor legalizado diz que o produto tem travas de região, chegará ao seu país três meses depois do lançamento americano e só pode ser comprado em uma loja física, então o serviço do pirata é de maior valor".
O Steam é o maior serviço de venda de jogos por PC, não enfrentando problema algum para florescer em meio à pirataria. Ele sofre de outros problemas relativos à distribuição digital, mas isso já não é problema nosso.
Outro desenvolvedor, que realmente parece entender um pouco mais de videogames, é Fork Parker, CEO da Devolver, que é responsável por publicar Serious Sam 3, que comentou: "Serious Sam 3 combate a pirataria ao ser um jogo divertido, frenético e oferecendo uma campanha selvagem cooperativa para até 16 pessoas. Os jogadores pagam pelo que é legal".
Jogadores vão pagar pelo que eles gostarem. Independente de todas as concepções que as grandes empresas fazem a maioria acreditar. Recentemente foi divulgado um estudo sobre a Suíça, onde não é ilegal baixar conteúdo para seu uso próprio (como no Brasil), visando saber se deveriam ou não alterar suas leis de copirraite.
O país decidiu mantê-las quando descobriu que a dita "pirataria", não estava diminuindo as vendas, pois as pessoas mantinham a mesma quantia de sua renda destinada ao entretenimento. O mais incrível no entanto, é que além de não diminuir, ela aumentava as vendas, pois as pessoas experimentavam mais o que era desconhecido.
Juntando tudo, temos o seguinte resumo:
1. "Não existe venda perdida" - Markus "Notch" Persson, CEO Mohjang, criador de Minecraft
2. "Pirataria é um problema de serviço (valor) e não um problema de preço" - Gabe Newell, CEO Valve (Steam)
3. "Os jogadores pagam pelo que é legal" - Fork Parker, CEO Devolver, publicadora de Serious Sam 3
Gostaria de encerrar este artigo com um post do blog pessoal de Notch:
"Grandes partes da cultura nos dias de hoje existem em um mundo onde cópias são de graça. Copiar um livro físico custa dinheiro, mas copiar um filme digital é de graça. Na verdade, mesmo mover um arquivo de um HD para o outro, copia o filme primeiro e então apaga o original. Copiar jogos também é de graça. Recursos não são perdidos, ninguém perde dinheiro e mais pessoas se divertem".
"Para pessoas que querem ser pagas pelo seu trabalho digital, como eu, isso é um problema. Toda a economia da sociedade está baseada em um modelo ultrapassado onde dar algo a alguém privaria o dono original de sua cópia, então todos que quisessem uma cópia tinham que comprar uma de alguém que perderia a própria, e a única fonte de novas cópias era você".
"Nós temos uma incrível e eficiente forma de distribuir cultura que é extremamente benéfica para a humanidade, mas que colide com nossos modelos econômicos atuais. A pirataria irá vencer a longo prazo. Ela tem que vencer. A alternativa é assustadora demais".
E caso estejam se perguntando, eu paguei o maior preço possível por Minecraft, €19,95, o equivalente a uns R$ 50 atualmente, pois eu achei que o jogo merecia. Não só isso, eu comprei camisetas, um chaveiro, um bloco de papel e uma picareta.
Eu gastei aproximadamente dez vezes mais do que se eu simplesmente tivesse comprado o jogo no início, pela metade do preço atual, experimentado e não tivesse gostado.