quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Pirateando Minecraft

Algumas semanas atrás, um dos maiores fenômenos independentes do mundo dos jogos foi lançado. Apesar de estar disponível há anos, Minecraft finalmente saiu de sua versão beta e atingiu um status oficial de completo.

A questão é que, como dito, Minecraft esteve disponível durante todos esses anos e eu o achava um jogo interessante, mas eu não o comprei. Apesar de estar bastante inclinado a fazê-lo, algo me segurava, eu pensava: "Falta objetivo", então para mim não valia a pena comprá-lo.

Se eu achava o jogo interessante, será que deveria pirateá-lo para jogá-lo sem pagar? Nessa época, Minecraft era vendido pela metade do seu preço, eu poderia pagar metade do preço dele e ainda tê-lo legalmente. O que me impeliu a não comprá-lo naquela época, porém pagar o dobro do preço satisfeito agora?



O criador de Minecraft, Markus "Notch" Persson uma vez falou sobre sua postura em relação a pirataria: "Pirataria não é roubo. Não existe venda perdida". O que ele queria dizer com isso é que é fácil se acomodar e acusar os outros de roubarem seu trabalho, ele prefere correr atrás e fazer com que os jogadores queiram pagar.

Isso soa como loucura, certo? Por que alguém pagaria por algo que eles já têm de graça? Um jogador com a versão pirata de um jogo, nunca iria comprar a original, iria? Veja este e-mail enviado para o Blog de Sean Malstrom, traduzido:
"Olá Sean, eu não tenho tipo muito tempo para escrever ultimamente, mas vou abrir uma exceção para Minecraft. (...) Eu joguei a versão pirata de Minecraft já que não gosto muito de já ter pago por jogos que mais tarde me desapontam. Eu achei que Minecraft era legal e tudo, mas como você, eu superei o jogo e senti que faltava objetivo, então não senti que deveria comprá-lo".
"(..) Quando [Notch] anunciou o "Adventure Update", ele me pegou, eu senti a expectativa e comprei, por mais do que eu pagaria na beta, porque eu senti que eu receberia o valor que eu não senti que receberia [antes]. Eu não me desapontei".

É realmente assim que eu me sinto. Não só este jogador pagou por um jogo que ele já possuía em versão pirata, como ele pagou o dobro do que precisaria pagar se tivesse comprado antes. Isso só reforça que pirataria nunca foi uma questão de preço, mas sim de valor.

O que por sua vez é mais ou menos o que diz o chefe executivo da Valve, Gabe Newell. Isso mesmo, a empresa por trás do Steam. "Achamos que há um conceito errado fundamental sobre pirataria. Ela é quase sempre um problema de serviço (valor) e não um problema de preço", diz Gabe.


E continua: "Por exemplo, se um pirata oferece um produto da conveniência do seu computador pessoal, e o vendedor legalizado diz que o produto tem travas de região, chegará ao seu país três meses depois do lançamento americano e só pode ser comprado em uma loja física, então o serviço do pirata é de maior valor".

O Steam é o maior serviço de venda de jogos por PC, não enfrentando problema algum para florescer em meio à pirataria. Ele sofre de outros problemas relativos à distribuição digital, mas isso já não é problema nosso.

Outro desenvolvedor, que realmente parece entender um pouco mais de videogames, é Fork Parker, CEO da Devolver, que é responsável por publicar Serious Sam 3, que comentou: "Serious Sam 3 combate a pirataria ao ser um jogo divertido, frenético e oferecendo uma campanha selvagem cooperativa para até 16 pessoas. Os jogadores pagam pelo que é legal".

Jogadores vão pagar pelo que eles gostarem. Independente de todas as concepções que as grandes empresas fazem a maioria acreditar. Recentemente foi divulgado um estudo sobre a Suíça, onde não é ilegal baixar conteúdo para seu uso próprio (como no Brasil), visando saber se deveriam ou não alterar suas leis de copirraite.

O país decidiu mantê-las quando descobriu que a dita "pirataria", não estava diminuindo as vendas, pois as pessoas mantinham a mesma quantia de sua renda destinada ao entretenimento. O mais incrível no entanto, é que além de não diminuir, ela aumentava as vendas, pois as pessoas experimentavam mais o que era desconhecido.


Juntando tudo, temos o seguinte resumo:

1. "Não existe venda perdida" - Markus "Notch" Persson, CEO Mohjang, criador de Minecraft

2. "Pirataria é um problema de serviço (valor) e não um problema de preço" - Gabe Newell, CEO Valve (Steam)

3. "Os jogadores pagam pelo que é legal" - Fork Parker, CEO Devolver, publicadora de Serious Sam 3

Gostaria de encerrar este artigo com um post do blog pessoal de Notch:

"Grandes partes da cultura nos dias de hoje existem em um mundo onde cópias são de graça. Copiar um livro físico custa dinheiro, mas copiar um filme digital é de graça. Na verdade, mesmo mover um arquivo de um HD para o outro, copia o filme primeiro e então apaga o original. Copiar jogos também é de graça. Recursos não são perdidos, ninguém perde dinheiro e mais pessoas se divertem".
"Para pessoas que querem ser pagas pelo seu trabalho digital, como eu, isso é um problema. Toda a economia da sociedade está baseada em um modelo ultrapassado onde dar algo a alguém privaria o dono original de sua cópia, então todos que quisessem uma cópia tinham que comprar uma de alguém que perderia a própria, e a única fonte de novas cópias era você".
"Nós temos uma incrível e eficiente forma de distribuir cultura que é extremamente benéfica para a humanidade, mas que colide com nossos modelos econômicos atuais. A pirataria irá vencer a longo prazo. Ela tem que vencer. A alternativa é assustadora demais".

E caso estejam se perguntando, eu paguei o maior preço possível por Minecraft, €19,95, o equivalente a uns R$ 50 atualmente, pois eu achei que o jogo merecia. Não só isso, eu comprei camisetas, um chaveiro, um bloco de papel e uma picareta.


Eu gastei aproximadamente dez vezes mais do que se eu simplesmente tivesse comprado o jogo no início, pela metade do preço atual, experimentado e não tivesse gostado.